O zelo pela liberdade de pessoas e ideias, num terreno que preserve a segurança: é nesse cenário que o ator Paulo Miklos, astro do novo filme de Iberê Carvalho, o Homem cordial, percebe o ideal da contenção das fake news, um fator de peso na análise do novo filme que estreia na cidade.
Exposto, na trajetória musical que o fez crescer em público, Miklos conta que, tal qual o protagonista do filme, o roqueiro Aurélio, lidou com episódios públicos que abalam a própria vida. "Aurélio não leva a sério o fator fake no digital. Ele não tem a dimensão de que as coisas podiam ser nefastas e que até sua integridade física poderia ser posta em risco. É assim, nisso, que se concretiza o efeito manada", observa Miklos, em entrevista ao Correio.
Na trama, uma celebridade toma partido de um suposto autor (indireto) de crime. "O filme é quase um rap: ele conta uma realidade. Não se investiu apenas em ficção. Há retrato de fatos que acontecem diariamente na realidade do Brasil (...) O país é racista e covarde, apesar de se falar de pluralidade racial e da negativa do preconceito", avalia Thaíde, que interpreta antigo amigo de Aurélio.
Entre improvisos proporcionados pelo papel de Béstia, o rapper Thaíde conta que, em situações do filme, se viu refletido. "Passei muitas situações ao ser abordado com violência pela polícia. Se trata de um filme corajoso e necessário", adianta. Baseado numa inflada situação de julgamento social, o filme motiva a reflexão de Thaíde: "Há finalidade para existir polícia e justiça. Estamos na era de (se) fazer justiça com as próprias mãos, e ninguém é preparado para isso. Se age sem pensar, e aí é que mora o perigo".
Duas perguntas // Paulo Miklos, ator e cantor
Como nota a possibilidade de criminalização das fake news?
O filme trata deste assunto. É algo que está em discussão no Congresso, mas não sabemos exatamente o que vai acontecer. É um tema complexo, mesmo para quem é a favor. Os direitos autorais poderiam estar no bojo desta discussão. E, até mesmo do próprio tema da discussão, já tem motivado fake news em volta. Terra sem lei tem sempre um objetivo: escamotear, e preservar os bandidos. São eles que têm os negócios escusos. Com as fake news, reina uma selvageria completa e caótica. Vivemos num mundo organizado em que pessoas pagam pelos erros que cometem. Isso deve ser estendido para as redes sociais.
Como nota a cidade, na tua trajetória em cinema?
Brasília ainda motiva o grito de contestação e isso ainda hoje. No cinema, em Brasília, vivi o efeito do meu primeiro filme, O invasor (1997). Foi uma experiência alucinante. A plateia tradicional do Festival de Brasília, em que o filme passou, é rock´n´roll. Responde o filme na tela, grita e reage. Eu nunca tinha vivido uma coisa daquelas, e eu estava na tela. Eu virava, no cinema, e ficava cobrando silêncio (risos). Foi algo sem paralelo na minha vida. Uma realização artística que eu nunca tinha experimentado. Depois, ainda veio o É proibido fumar, e agora, O homem cordial, dirigido por um brasiliense.
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