Cinema

No filme sobre motociclismo Rodeo, mulher imprime presença vigorosa

Com feminismo acirrado, o filme Rodeo mostra a entrada forçada de uma mulher no perigoso circuito do motociclismo

Ricardo Daehn
postado em 05/05/2023 07:03
Rodeo: desafio nas pistas e na sociedade machista -  (crédito:  Imovision/Divulgação)
Rodeo: desafio nas pistas e na sociedade machista - (crédito: Imovision/Divulgação)

Quando da edição de Rodeo, um dos produtores do premiado filme (que estreia nos cinemas, hoje) fez a associação instantânea de parte desta fita feminista com uma sequência da renúncia de Nicolas Cage no hollywoodiano Motoquerio fantasma. Conduzido pela francesa Lola Quivoron, Rodeo trata de Julia, a marginalizada personagem de Julie Ledru. "Nunca assisti ao longa da Marvel, mas queria muito um desfecho de Rodeo associado à criação de uma lenda heroica e, nisso, despontava a imagem mitológica da Fênix. Ela queima e renasce das cinzas. Queria prestar homenagem a princípios taoistas — sem precisos limites entre vida e morte", conta a diretora, em entrevista exclusiva ao Correio.

Ao som da música brasileira Corpo/Sujeito (na voz de Cibelle), Lola Quivoron escreveu Rodeo. "Escrevia com ela ao fundo, com persistência. Nem conhecia o sentido; e foi quase um milagre a letra descrevia a imagem da personagem que eu estava criando. Era uma porta aberta para o universo que explorava naquele momento, sobre geração e liberdade", explica a também roteirista Quivoron.

Admiradora do mestre John Carpenter (de Christine, o carro assassino), ela observa que o diretor do terror B foi dos pioneiros a humanizar máquinas nos enredos de cinema. Em Rodeo, Julia rouba uma motocicleta tornada um apêndice dela mesma. "É como um segundo corpo: a torna mais poderosa e ainda lhe traz reconhecimento, e a estridência que rende maior visibilidade", pontua a diretora. Premiado na mostra Um Certo Olhar, de Cannes, Rodeo se alinha a filmes como Carro rei e Titane, que acoplam um grafismo mecânico.

"As máquinas contaminam a todos, atualmente. Socialmente, temos nos transformado em máquinas, sem parar, a cada segundo, olhando para telas e celulares. Rituais são frios e nada têm de vívidos. Não duvido que, observando as máquinas de hoje, consigamos entender melhor os seres humanos", detecta Lola Quivoron. Depois de sete anos na estrada, ao lado de motociclistas, a cineasta incorporou, no filme, figuras relevantes ao meio, como o competidor Junior Correia. De origem portuguesa, ele é um dos grandes motociclistas da Europa e do mundo.

Num meio extremamente masculino, a personagem central não é assimilada por causa de seu corpo. "Por isso busquei expandir a existência dela, transformada em fogo. A futura presença de Julia assombrará o público. Lidei com a energia presente de ancestrais, na realização do filme. Liberta do corpo, minha avó morreu antes das filmagens, e creio num ciclo do movimento eterno."

 

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