Foi o interesse pelos arquétipos do clássico O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, que levou o diretor Roberto Dagô a criar Asteroide AP612, em cartaz a partir de amanhã no Galpão Salomé. No livro, um aviador encontra um menino que vive em um asteroide no qual há apenas uma flor, com a qual conversa, e dois baobás, temidos porque um dia podem destruir o pequeno astro. "Sempre achei muito metafórico e isso se tornou o mote da dramaturgia: como pensar nessa figura isolada, num planeta pequeno, um corpo que é tão grande a ponto de não caber quase no próprio planeta" explica o diretor, que associou a ideia de um corpo que pode tomar e destruir um planeta inteiro a uma existência fascista. "E como esse corpo fascista se coloca no centro do universo, tão centrado no próprio umbigo que sobra pouca coisa", diz Dagô.
O espetáculo é uma mescla de trabalho físico com dança e vídeo. Não há texto e a personagem é interpretada por Ana Flávia Garcia, que vive a figura de uma devoradora de estrelas. "É uma figura um pouco absurda, abstrata, que mistura muitas referências corporais para criar uma espécie de presença cósmica que é, ao mesmo tempo, ingênua e perversa, polos quase opostos na construção dessa figura", explica o diretor. Um trabalho físico e uma dramaturgia construída em função do espaço e do corpo da atriz são o centro do espetáculo. Em torno de Ana Flávia, uma estrutura geodésica recebe projeções de vídeos que criam um ambiente imersivo para a atuação.
Dagô usou O pequeno príncipe como trampolim para potencializar um pensamento poético em cima de reflexões bastante políticas. "É um livro que desperta muito mistério, curiosidade e perturbação porque tem esse disfarce de universo infantil, mas evoca imagens tão fortes e de afetividade poética tão intensa que é quase impossível sair indiferente ao poder de identificação que o livro gera."
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