Jornal Correio Braziliense

Crítica

Um império de crime, em thriller noir com Liam Neeson

Filme de crime, estrelado por Liam Neeson, e comandado por Neil Jordan, 'Sombras de um crime' segue bons padrões de thrillers clássicos

Crítica // Sombras de um crime ###

Numa das raras vezes, em anos, é possível conferir Liam Neeson, no mais recente filme de Neil Jordan, interpretando um personagem descolado da vingança em nome de algum malfeito para filho. No desenvolvimento do longa, absolutamente colado ao gênero noir, a ambientação é mais da metade da qualidade ofertada na produção. Responsável pela fotografia espalhafatosa de Alexandria e O operário, o espanhol Xavi Giménez alcança um bom nível, no filme que explora o visual da Los Angeles dos anos de 1930, e em especial os bastidores do fazer cinematográfico no fictício Pacific Studios.

Sem o vigor do recente filme de Guillermo del Toro O beco do pesadelo — outro que apostou no noir —, Sombras de um crime se apoia nas reviravoltas presenciadas e até estimuladas pelo detetive Marlowe (Neeson). Entre duas louras, interpretadas pelas ótimas Diane Kruger, que vive a decidida Clare, e Jessica Lange, na pele da glamourosa matriarca, Malowe se vê preso ao falso assassinato de Nico Peterson (François Arnaud). No fundo, o investigador autônomo almeja a aposentadoria. O diretor irlandês Neil Jordan sempre foi íntimo dos marginalizados, vide os moribundos tipos de Entrevista com o vampiro, os criminosos de Traídos pelo desejo (1992) e os adúlteros de Fim de caso (1999).

Todo aspecto comedido da produção, e como resume uma das personagens — a simplicidade do roteiro, espremido entre "assassinato, amor e redenção" — quase vai por água abaixo, diante da teatralidade do personagem de Alan Cumming. Agindo com força e intelecto, Marlowe rende um bom retrato para Liam Neeson, obstinado em se manter digno, num jogo movido a dinheiro, criminalidade e reputação.