Crítica // Raquel 1:1 ###
Ao lado de Esmir Filho, a diretora Mariana Bastos desfilou o talento no empolgante Alguma coisa assim. Cinco anos depois da experiência, assumiu a experiência solo de Raquel 1:1. Intermediar o conteúdo da Bíblia, como base para católicos, por quase 1500 anos, já foi objeto de cinema, sob a desértica experiência na enunciação da Vulgata, uma tradução dos Evangelhos para o latim, representada em São Jerônimo, filme apresentado há 24 anos por Julio Bressane, no Cine Brasília.
Neste mesmo templo do cinema nacional, desponta Raquel 1:1, filme protagonizado por Valentina Herszage, a Raquel do título. Até ser tachada de "vadia herege", depois de chegar numa cidade como forasteira, ao lado do pai Hermes (Emílio de Mello, um ator de muita presença). A violência ronda o dissidente — o que seja descolado do considerado civilizado, no quase vilarejo em que se mete. Sob ausência materna, Raquel carrega traumas. Tudo só será potencializado pela atmosfera de "cura e libertação", junto com um lastro de hipocrisia que impera na relação com os jovens Gustavo (Ravel Andrade), Ana Helena (Priscila Bittencourt) e Laura (Eduarda Samara).
Ao sentir uma revelação, Raquel se vê desafiada e, junto com ataques diretos e poluição virtual, defende uma era de renovação para uma Bíblia sujeita a revisões. Um recolhimento se dará numa quase caverna, em ruínas descoladas do resto da cidade. Com argumentações, por vezes, fortes, a palavra de Raquel parece repreender a opressão. Apesar de o filme manter desenvolvimento convencional, atrai o interesse, sob abordagem convincente.