Crítica // Um filho ####
Impossível assistir ao novo filme de Florian Zeller (de Meu pai) sem lembrar do pai interpretado por Paul Mescal, no recente Aftersun. Junto com o roteirista Christoper Hampton (dos ótimos Ligações perigosas e O americano tranquilo), Zeller, que parte de uma peça de própria autoria, trata do vazio de uma vida sofrida e que, a exemplo da tragédia de Aftersun, tem tudo para ser consumada.
Indicado ao Globo de Ouro de melhor ator, Hugh Jackman dá vida a Peter, um bem-sucedido pai que exerce todo espectro de compreensão diante da fragilidade emocional apresentada pelo filho Nicholas (o australiano Zen McGrath). O rapaz, ressentido com o casamento fracassado da mãe, Kate (Laura Dern), expõe a inaptidão e a imensa qualidade compassiva do pai (Jackman, num papel forte) que o acolhe na casa da nova esposa Beth (Vanessa Kirby). Junto com o irmão Theo, Nicholas parece ter alcançado a estabilidade, num ambiente mais hospitaleiro do que o oferecido pelo avô milionário (Anthony Hopkins, em breve aparição).
Vencedor do Oscar, com o roteiro adaptado de Meu pai, Zeller — que comandou o francês A viagem de meu pai — se aplica numa jornada de drama que foge ao convencional, e na qual pesa a paternidade em escala definitiva, como nos dramáticos Gente como a gente (1980) e Custódia (2017). Desse último, aliás, veio o montador franco-grego Yorgos Lamprinos, vencedor do Oscar, por Meu pai — um filme cheio de idas e vindas no tempo. Novamente, num golpe sem misericórdia, Lamprinos exerce a arte dele, com toda a técnica de efeito.
O filme de Zeller, candidato ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, exige a sutileza de olhares e a habilidade de emocionar do mesmo ator que personificou Wolverine. Recorrendo a tons azulados e frios, Um filho traz carga emocional equiparada a do recente Querido menino, estrelado por Steve Carell e Timothée Chalamet.