Fragmentos do cotidiano, detalhes banais, miudezas do dia a dia são o material do artista mineiro Lucas Dupin nas obras da exposição A parte pelo todo, em cartaz na Galeria Marcantonio Vilaça do Centro Cultural TCU. Com curadoria de Cinara Barbosa, a mostra reúne trabalhos realizados entre 2008 e 2022, mas não é, segundo o artista, uma retrospectiva. "Séries enormes de trabalho ficaram de fora e não tínhamos a pretensão de dar conta de tudo. As partes que estão ali dão conta de apresentar um universo poético", explica o artista.
Com desenhos, aquarelas, vídeos e performances, Lucas Dupin transita por diversas linguagens, mas aponta pelo menos um ponto de conexão entre os trabalhos: "Todos operam por uma dimensão do fragmento". Pode ser uma calçada de pedra portuguesa em vias de ser destruída da qual o artista retira um pedaço para refletir sobre o passado colonial ou uma planta que nasce aleatoriamente no meio do asfalto, ou ainda um estalinho de festa junina, motivo para uma aquarela cheia de complexidade. "Parto de um lugar muito fragmentado e simples para remeter a algo maior, de fora. Esse é um ponto que conecta minhas pesquisas. Outro ponto é esse olhar mais detido para as coisas que estão no rés do chão, daquilo que está sendo jogado fora", comenta Dupin.
O artista se diz movido pela própria busca desses fragmentos, pela investigação de onde estão e o que podem gerar de reflexão. "O encanto de quem é artista é ser movido por uma busca, mas não pelo resultado. Me interessam aquelas coisas que estão à distância da mão. Aí está a potência do fazer artístico, não pensá-lo como objeto, mas como modo de ver o mundo. Não precisa ser algo extraordinário, espetacular, que fuja do que a gente tem à disposição, e sim pensar o que nos cerca de outro modo", observa.
O contraste entre o peso e a leveza, as contradições dos materiais ao mesmo tempo em que dialogam está em Jardins suspensos, no qual restos de calçada com pequenas plantas estão suspensos com fios de náilon. O que se vê e o que se imagina são complementares em Biblioteca por vir, uma sequência de estantes de livros cujas lombadas queimadas com pólvora estão pintadas com aquarelas de folhagens que lembram ilustrações botânicas tamanha a precisão. "Tem essa dualidade de uma aquarela super delicada a uma pólvora que explode o livro", repara o artista, que repete a dualidade em Bibliomorfas, espécies de faixas de látex construídas com livros que iriam para o descarte.