Crítica

Sophie Charlotte conduz ciranda amorosa em 'O rio do desejo'

Com desenvolvimento acompanhado pelo escritor Milton Hatoum, o novo filme de Sérgio Machado explora os frutos proibidos de sentimentos dentro de uma mesma família

 O rio do desejo: em cena, as infinitas possibilidades do amor       -  (crédito:  TC Filmes e Gullane,Divulgacao)
O rio do desejo: em cena, as infinitas possibilidades do amor - (crédito: TC Filmes e Gullane,Divulgacao)
postado em 24/03/2023 06:17 / atualizado em 27/10/2023 10:39

Crítica // O rio do desejo ###

Numa ciranda amorosa que dá margem a um jogo de múltiplas traições e uma cadeia de agudos sentimentos e ressentimentos sobrepostos, o novo filme do premiado baiano Sergio Machado explora a capacidade criativa do escritor manauara Milton Hatoum. Num processo de roteiro que envolveu o escritor, o diretor do filme e ainda a dupla Maria Camargo e George Walker Torres, há evidente solidez na trama criada em torno de uma constante tensão. O conto O adeus do comandante foi ampliado para ocupar a telona do cinema.

Filmado em Itacoatiara e Manaus, pelo mesmo corroteirista de Madame Satã, O rio do desejo investe em mais um relato de trisal, numa busca regular de Machado, sempre lembrado por Cidade Baixa (2005). O amor sufoca e transpira, quando Anaíra (Sophie Charlotte) adentra a família dos irmãos Dalberto (Daniel de Oliveira) e Armando (Gabriel Leone), ambos sempre contemplados e apoiados pelo circunspecto irmão Dalmo (o brasiliense Rômulo Braga).

Um ciclo de desequilíbrio trará aspereza ao enredo, que tem reviravoltas, a partir da investida do ex-policial Dalberto nas águas do Rio Negro, depois de casado com Anaíra, e numa fase em que patina para consolidar uma nova estrutura familiar. O afastamento temporário de Dalberto é gerado pela entrada em cena do misterioso personagem de Coco Chiarella (ator peruano, morto em 2021, e a quem o filme é dedicado, junto com saudosos nomes como Paulo José e Sérgio Mamberti).

Filmado com muitas imagens noturnas, que extraem um colorido intenso e inesperado do Amazonas, o longa traz a apurada direção de arte de Adrian Cooper (fotógrafo de Contra todos). Em certa medida, o longa lembra o drama de A intrusa, drama dos anos de 1970, com Maria Zilda, baseado na literatura de Jorge Luis Borges e repleto de desavenças fraternas. A sensualidade permeia uma série de encontros, pautados em rompantes e situações que fogem ao controle. Entre atuações fortes, até o coadjuvante candango Jorge Paz se mostra bem preparado.

Entre revoadas de pássaros (que se alinham às mudanças abruptas no seio familiar), O rio do desejo faz pensar sobre temas como a maternidade (é patente a lacuna sentida pelos três irmãos homens), a capacidade do perdão e as vontades amputadas ou, num revés, vividas com enorme intensidade e falta de raciocínio.

 


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