O Dia Internacional da Mulher, comemorado na quarta-feira (8/3), foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) na década de 1970. Desde então, a data é vista como um momento de reflexão, simbolizando a luta histórica das mulheres por igualdade de gênero. Na gastronomia, apesar de falsos estereótipos, como os de "lugar de mulher é na cozinha", chefs em todos os cantos do país ainda enfrentam dificuldades e preconceitos na hora de liderar seus respectivos restaurantes. "A vida profissional de uma mulher é sempre mais difícil. Tento dar sempre o meu melhor e superar as expectativas. As mulheres foram as donas das cozinhas em quase todos os cantos do mundo, no entanto, na cozinha profissional, são discriminadas", desabafa Fabiana Pinheiro, chef do Sallva Bar & Ristorante.
Apesar do longo trajeto que ainda precisa ser trilhado até alcançar a tão sonhada equidade, o cenário tem se mostrado mais otimista. "Acreditamos que a mulher vem finalmente alcançando o espaço que lhe é de direito na nossa cidade. Cada vez mais, vemos mulheres chefiando vários restaurantes, não só dentro da cozinha, mas administrando, investindo, gerindo essa máquina tão complexa que é um estabelecimento gastronômico. E temos a certeza de que a cena gastronômica de Brasília só tem a evoluir com isso", observa Bianca Gregório, sócia-proprietária do Almeria.
Assim como nas mais variadas áreas profissionais, os caminhos na gastronomia têm sido abertos por chefs que são vistas como exemplo. "Nós, mulheres, conseguimos, com muita competência, trazer criatividade, força e a noção de comunidade para dentro da cozinha. Um exemplo disso é a Janaína Hueda, que hoje chefia a Casa Do Porco, o restaurante brasileiro mais premiado da atualidade", aponta Bianca. "Na gastronomia, temos exemplos de mulheres fortes que estão mudando este cenário, como a Anne Sophie Pic, a Renata Vanzetto, Jessica Prealpato. Graças a elas e tantas outras, estamos percebendo uma mudança no conhecimento feminino na gastronomia", cita Ana Victoria, chef do Nolina Pizza.
Comida com afeto
A cozinha é parte do dia a dia de Babi Frazão desde a infância. "Minha mãe sempre cozinhou muito bem e, desde muito, cedo incentivou essa autonomia", relembra a chef do Afeto Restaurante. Desde então, Babi sabia que trabalharia em um restaurante, e, foi assim, que nasceu, em 2021, o Afeto. "O diferencial do restaurante é a nossa comida, claro. Ela tem força e consegue cativar. Comida bem preparada, com bons ingredientes e cuidado em cada etapa", garante.
Os principais destaques da casa, segundo a chef, são o peixe com molho de moqueca (R$ 72), com farofa de alho com dendê e purê de abóbora, e o picadinho de filé (R$ 62), acompanhado por arroz, ovo, farofa de banana e batata frita.
Para além da capital
Foi na França que Roberta Azevedo, antes mesmo de sonhar em abrir um restaurante, teve o primeiro contato com a gastronomia. No país europeu, a chef dividiu moradia com outros estrangeiros, que, semanalmente, dividiam a cozinha para preparar as refeições dos demais, hábito que foi responsável por dar início à uma trajetória de sucesso. Apesar das adversidades da época, Roberta decidiu abrir o Comedoria Sazonal em meio a pandemia. “Eu enxerguei uma oportunidade de trabalho. Eu já trabalhava com gastronomia, mas com eventos, e, além de ficar sem trabalho, percebi o aumento da demanda nos pedidos a serem retirados no local ou serem entregues em casa”, explica. Hoje, o restaurante que, inicialmente, tinha ponto fixo na Infinu Comunidade Criativa, funciona de forma nômade e pontual, expandindo os serviços para além de Brasília. Aos que desejam experimentar dos diversos sabores do restaurante, o menu do local tem como carro-chefe o pirarucu selvagem (R$ 50), acompanhado por molho chimichurri da casa, chibé de farinha d’água com pico de gallo, vegetais braseados, leguminosa da semana e patacones.
Sucesso em expansão
naugurado no auge da pandemia, novembro de 2020, o Almeria Restaurante é sinônimo de sucesso, graças ao trabalho conjunto de Bianca Gregório e da chef Luiza Jabour. Apesar do início conturbado, devido à covid-19, a casa se tornou queridinha dos amantes de gastronomia de Brasília e, neste ano, se expandiu com a abertura da Casa Almeria, que reúne os conceitos de padaria, empório, confeitaria e restaurante em um só local. “A Casa Almeria é um empório, uma padaria com uma proposta diferente, mais descontraída e informal”, define Bianca. Para a sócia-proprietária, um dos pratos que mais se destacam no Almeria Restaurante é o polvo (R$ 125), servido com batata rústica, húmus da casa, farofa crocante e aioli picante. Já na Casa Almeria, a versão do sanduíche de mortadela (R$ 42), feito com focaccia de fermentação natural, mortadela italiana, pesto, coalhada seca e mussarela de búfala, faz sucesso entre os clientes. “É imperdível”, garante.
A brasilidade na gastronomia mediterrânea
A paixão pela cozinha profissional mudou os rumos da chef do Sallva Bar & Ristorante, Fabiana Pinheiro, que se formou em arquitetura, mas seguiu carreira na gastronomia profissional. Em 2001, Fabiana se mudou para a Espanha para fazer um doutorado na área de construção e tecnologia. Ainda na Europa, fez alguns cursos de grandes chefs espanhóis e se especializou na gastronomia local. Em 2011, Fabiana voltou para o Brasil e, com todo o conhecimento adquirido, abriu o primeiro restaurante. Oito anos depois, assumiu a chefia do Sallva Bar & Ristorante.
No restaurante, os clientes encontram um cardápio único, inspirado na cozinha mediterrânea e brasileira. "Aprendi com os espanhóis, franceses e italianos a respeitar e admirar o sabor das boas matérias primas e no Brasil temos excelentes produtos", assegura Fabiana. O prato principal da casa é o Pirarucu ao molho Alfredo (R$ 95), servido com gnocchi de banana da terra. Os ingredientes são escolhidos a dedo pela chef: "Meus fornecedores são parceiros. Sem eles não temos como servir comida boa. Escolhemos nossas matérias primas".
Homenagens a figuras femininas
Resultado de uma união de nove anos entre Pati Egito e Mari Mira, o Jamburita é o segundo restaurante nascido da parceria do casal. Juntas, as duas pesquisam e elaboram diferentes conceitos dos pratos presentes no menu, desenvolvidos e executados por Pati. “Foram diversos serviços prestados no universo gastronômico até chegar na casinha aconchegante que é o Jamburita”, relembra Mari. Apesar de inaugurado quatro meses antes do lockdown, o local foi capaz de encarar a pandemia e sobreviver às condições adversas da época. Atualmente, o restaurante conta com uma equipe inteiramente composta por mulheres. “A busca pelo bem viver e pelo empoderamento das mulheres sempre foi a missão norteadora de nosso trabalho, seja na gastronomia, quanto na produção cultural”, afirma. Durante o mês de março, o restaurante homenageia mulheres das mais diversas esferas, da arte à política. Toda sexta e sábado, no almoço, a casa serve pratos exclusivos inspirados por essas figuras. As opções do cardápio variam de acordo com a sazonalidade dos produtos e inspirações momentâneas, com foco nas regiões Norte, Nordeste e na América Latina. Peixes, camarões e caranguejos fazem parte dos principais pratos da casa, que conta com um ticket médio de R$ 80 por pessoa.
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