"As pessoas são escrotas", é uma das sentenças mais duras que saem da boca da jovem Ellie (Sadie Sink, de Stranger things), muito mais cáustica do que como é vista, dada como adolescente "rebelde e difícil". Cruel, não é exatamente ela quem tira o equilíbrio do otimista pai, o professor Charlie (Brendan Fraser): a gravidade é que o abala, a cada tentativa de deixar o modorrento sofá em que parece grudado, com seus mais de 250 quilos. Baseado numa peça assinada pelo quarentão Samuel D. Hunter, o projeto para cinema de A baleia — um drama denso e com tons desesperados — serviu como luva para o diretor Darren Aronofsky, sempre lembrado por Cisne Negro, Pi e Mãe!
Excessos e manipulações (de imagens e dos espectadores) sempre foram uma constante na carreira do mesmo diretor do clássico Réquiem para um sonho (2000). Se naquele filme, a personagem da excepcional Ellen Burstyn queria, a todo custo, emagrecer para caber num indefectível vestido vermelho; em A baleia, o personagem central — metido num pequeno apartamento à beira-mar — se compulsivo na engorda, comendo sem quase mastigar e sofrendo os efeitos das escolhas hipercalóricas.
Às vias da morte, por insuficiência cardíaca congestiva, Charlie parece condenado à inércia, num personagem ao avesso do que interpretou em Deuses e monstros (1998). Com a câmera do computador (usado em videoaulas) quebrada, o professor empreende uma fuga no contato junto aos alunos de quem tanto demanda sinceridade e argumentação sólida em profundas teses analíticas. Em certa medida, Charlie deposita todas as fichas em repassar aos alunos lições de autenticidade.
Legítimo a suas marcas quem permanece é o diretor Darren Aronofsky. Rejeição, repulsa e disfunções seguem em plano enfático. Para além do incessante apelo da música de Rob Simonsen (que assinou a trilha do também soturno Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo), capaz de pesar a mão em tantos acordes, incomoda no filme a autoindulgência do personagem de Fraser (com justiça, indicado ao Oscar de melhor ator).
Ofegante e ciente do fim de seus tempos, Charlie empurra um andador, com uma integridade inabalável. Companheira de jornada, a enfermeira Liz rende ouro, nas mãos da habilidosa Hong Chau (de O menu). Num ambiente muito compacto e sem possibilidade de respiro, o diretor de fotografia de filmes de Spike Lee e até de Olivia Wilde, Matthew Libatique, sempre alinhado à cinematografia de Darren Aronofsky, desta vez, pouco rende.