Crítica // Perlimps ####
Vencedor do Festival de Annecy (o mais representativo da animação, sediado na França), o diretor brasileiro Alê Abreu (O menino e o mundo) fez história, em 2016, ao competir, ao lado da megaprodução Divertida mente, ao Oscar de melhor animação do ano. Sob aparente simplicidade, Abreu tem o mérito de lidar com discursos potentes. Na mais nova produção — respaldado por profissionais de ouro como Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi e Ernesto Soto (Joaquim) —, Abreu apresenta uma excelência visual, sob envolvente e extremado colorido, que os olhos festejam. No filme, há um personagem que sentencia que há "um menino, moleque, morando no coração".
A citação parece habitar a visão do diretor que trata no longa da dissolução de sonhos e da importância de redimensionar a escala individual, frente ao coletivo. Na trama, gigantes ameaçam a existência de um bosque, e dois reinos — o do sol e o da lua — despacham espiões em missão que pretende estancar a chamada grande onda, prenunciada por tecnologia aterradora; nisso, o filme fica aparentado do recente filme (também nacional) Tito e os pássaros (2018).
Sob a ameaça do Capitão Dourado, a dupla formada por um urso e uma raposa (pela ordem, Bruô e Claé) precisa de uma energia descomunal, que muito bem pode ser oferecida pelos Perlimps, seres que andam sumidos e sem sintonia com a dupla. Dando voz a um João-de-Barro algo desiludido, Stênio Garcia é um dos achados do longa. Os inventivos clipes que sintetizam capítulos da narrativa igualmente convencem. No mais, o filme trata de essenciais problemas no caminho de humanos, de guerras de egos, e de um pretenso desenvolvimento, à base de represas, usinas e fábricas.