Jornal Correio Braziliense

Cinema

Sob o domínio do medo

Crítica // Batem à porta ###

Crítica // Batem à porta ###

Num misto de roteiro à la A cabana (2017), com tom de redenção, e a violência presentes nos filmes de Sam Peckinpah, o diretor M. Night Shyamalan, com o eterno jeito misterioso, comanda Batem à porta. Fundamentalmente, o filme trata de crenças ("as crianças acreditam em tudo", um dos personagens diz) e da responsabilidade de escolhas. Sequelas de traumas, reflexões profundas e ações em estágio alterado de consciência estão inseridos entre muitos dos protagonistas, entre os quais Dave Bautista, que vive o professoral Leonard; Nikki Amuka-Bird, a enfermeira Sabrina e um tipo violento interpretado por Rupert Grint (eternamente associado à franquia de Harry Potter).

É no meio do nada, entre a natureza que integrantes de uma família serão atacados. Escolhidos para algo que foge à vontade deles, Eric (Jonathan Groff), Wen (Kristen Cui) e Andrew (Ben Aldridge) se veem ligados a um "surto psicológico" de terceiros. Entre o grupo que ataca, prevalece um sentimento de concordância adquirido por obscuras associações em chats da internet. Os lunáticos propõem um desgastante jogo para a sobrevivência de parte do trio. "Toda a humanidade foi julgada" é o mantra ouvido, numa situação de medo que traz à memória as tenebrosas ações do Estado Islâmico.

Lidando com elementos como desconfiança e manipulação mental, o diretor de carreira irregular, que alinha joias como O sexto sentido (1999) e A vila (2004) a filmes menores como Tempo (2021), aposta em longa com temática atual. Fanatismo religioso e realidades apocalípticas se somam a medos profundos, e há propostas de choques e cura para a sociedade adoecida. O discurso, aliás, é pra lá de pertinente.

Administrando um roteiro de raros fenômenos (na linha do que revelou em Fim dos tempos), Shyamalan antevê o risco para sete bilhões de pessoas. Entregue ao poder de convencimento do cinema, o pupilo de Hitchcock traz uma citação inclusive aos filmes de Hayao Miyazaki, cineasta sempre hábil em apontar ferramentas de empatia e tolerância. Numa realidade de terror — com direito a quedas sequenciadas de aviões — com adulteradas percepções de fatos (em que ecoa o longa Nós, de Jordan Peele) —, M. Night Shyamalan segue com o talento de prender a atenção de muitos, com o potencial estressante de seu cinema.

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