Jornal Correio Braziliense

Artes cênicas

Xerazade invade o sertão brasileiro em peça do Coletivo Arte&Cena

Peça do Coletivo Arte&Cena promove a recriação atualizada da narrativa clássica das 1001 Noites

Uma mistura de Brasil popular com clássico da literatura é a proposta do Coletivo Arte&Cena, que leva ao palco do Teatro Galpão Hugo Rodas o espetáculo Xerazade e as 1001 noites no sertão. "É um texto clássico, a gente buscou uma tradução direto do árabe, bem adulta, e adaptamos para jovens e adultos", explica o ator e diretor Cristiano Gomes. "A adaptação integra as 1001 noites com várias culturas do sertão do Nordeste e mineiro. As influências dos dois sertões se juntam na obra."

Criado em 2002, o Coletivo Arte&Cena reúne artistas da cidade em obras que exploram temas capazes de gerar algum impacto social. "Xerazade fala de feminicídio, machismo, abuso de poder, exploração mão de obra, são temas que estão circulando nas nossas montagens, sempre um tema social forte para discussão social", avisa Gomes. O grupo gosta de misturar referências. Em 2019, investiu em uma adaptação de A tempestade, de William Shakespeare, que se passa na Amazônia.

Agora é a vez do clássico Xerazade. A ideia surgiu a partir de uma pesquisa realizada pelo poeta Thiago de Mello no poema 1001 noites no sertão. No texto, Xerazade, personagem principal, surge numa cidade do interior do sertão. Um fazendeiro, no ápice de loucura, entende que pode se casar, matar a mulher na noite de núpcias e casar novamente para não ser mais traído. Xerazade, filha de um dos empregados do fazendeiro coronel, se oferece em casamento para tentar parar os atos insanos do personagem. "A partir das histórias que conta, ela vai criando quase um duplo, como se trabalhasse um pouco com a projeção, e tem um trabalho de reorganização de valores e pensamentos", explica Cristiano Gomes.

O texto original é de Thiago de Mello, mas Gomes fez a dramaturgia com os quatro atores do elenco em um processo de produção de escrita e dos diálogos. A temática social é um dos pontos de partida dos trabalhos do coletivo. " Uma das minhas bases de estudo é o (Augusto) Boal, que dizia que o teatro é a mais política das artes, não tem como falar de teatro sem falar de política em um conceito mais amplo do que esquerda e direita. A gente entende que nossas obras não vão transformar, mas, sim, abrir portas para o diálogo, o pensamento. A gente foge um pouco dessa ideia de teatro como entretenimento", avisa o diretor.