Crítica // As histórias de meu pai ###
Existe uma particularidade rara da admiração paterna materializada em filmes como A glória de meu pai (1990) e que se acomoda na trama do mais novo filme assinado por Jean-Pierre Améris, As histórias de meu pai. Enquanto o citado clássico de 1990 tinha por base textos de Marcel Pagnol, o novo filme tem roteiro criado a partir da literatura de Sorj Chalandon. Presente no conselho do presidente francês Charles de Gaulle, o protagonista do longa é André, um mitômano, interpretado com excelência por Benoît Poelvoorde.
É através do pequeno Émile (Jules Lefebvre) que o espectador tem contato com o horror e a eventual maravilha do contato com um homem siderado. Com vistas muito grossas, a mãe de Émile, Denise (Audrey Dana), traz o exemplo de alguém esgotada por uma realidade nunca absorvida pelo marido, que alterna momentos ternos ao mais impulsivo dos descontroles. Tratado de forma exemplar em A batalha de Argel (1966), pela ótica de Gillo Pontecorvo, o embate da independência da Argélia ganha um enfoque inusitado em As histórias de meu pai, que alterna teor humorado com o mais tenso dos dramas.
Acostumado a tratar de personagens donos de desajustes sociais — vistos filmes como Más companhias (1999) e Românticos anônimos (2010) —, o diretor Jean-Pierre Améris tira de letra o mundo de Émile, tragado por um universo de delírios, em que um personagem traz o contrassenso de tramar a morte do mais importante general francês de uma era inteira. E, pior, aliciando uma criança como cúmplice. Engraçado mas, igualmente, triste, o longa não deixa de chocar.
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