Jornal Correio Braziliense

Crítica

Longa do brasiliense Matheus Souza, A última festa traz sexo e juventude

A representação da diversidade sexual está estampada em A última festa, comédia sobre juventude

Crítica // A última festa ##

Sexo numa ambulância, mensagens trocadas em meio à bebedeira e descabidas confissões habitam o roteiro do altamente carioca diretor Matheus Souza, na verdade, nascido em Brasília. Numa dinâmica de celebração de formatura, um quarteto de amigos, apinhado de divergências, está na linha de frente de A última festa. Trajando altos figurinos de Dino Alves, uma galeria de atores irregulares traz vida para o roteiro do cineasta de cômicos títulos como Apenas o fim (2008), com Gregório Duvivier, e Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida (2012), este com Clarice Falcão.

Muito do enredo alcança a figura do inseguro Nathan (Christian Malheiros, do longa Sócrates), que, depois de enfrentar incontáveis desafios noturnos (por causa de um fútil pretendente), arranja uma acirrada parceria com Leo (Victor Meyniel, um achado, dono de potente talento). Tentando se libertar de um relacionamento enfraquecido, Nina (Marina Moschen) pretende ampliar horizontes, com desejos por maiores desfrutes.

Com premissa nada verossímil, a fim de perder a virgindade, Marina (Giulia Gayoso, de M8 — Quando a morte socorre a vida) quer adestrar Diego (Richard Abelha, num papel insuportável) para um sexo fogoso, em meio à festa. Química e veia cômica autêntica estão demarcadas no encontro da certinha, mas nem tanto, Bianca (Thalita Meneghim) e o despojado Caio (Victor Lamoglia, sempre eficiente). Ao espectador de A última festa vem o convite aos esperados, e modestos, risos.

Três perguntas // Matheus Souza, diretor

A sua concepção no roteiro traz apenas recortes de relacionamentos fluidos? É vício de ótica ou documentação de realidade?

Com certeza, o filme busca dialogar com as novas maneiras de se relacionar discutidas hoje em dia, mas abordamos diferentes formas de amor no longa. Acho que é um filme bem plural! Temos um casal hétero, mais “careta”, em um relacionamento longo buscando um lugar para fazer sexo na festa. Temos um relacionamento doce e fofo sobre dois jovens gays se apaixonando ao longo da noite. Uma jovem bissexual em dúvida entre duas paixões. Acredito que o filme não lide com certezas ou definições. Mas muitas dúvidas e confusão sobre como se relacionar hoje (que é o estado de quase todo mundo). A última festa busca ser um painel sobre a confusão que é se apaixonar enquanto jovem, a confusão que é se apaixonar hoje. E toda forma de amor é válida e representada com igual cuidado.

Em que medida os atores contribuíram no roteiro e nas filmagens?

Meu trabalho de direção, nos filmes jovens, envolve sempre muito diálogo com os atores para garantir que os personagens estejam dialogando com as novas gerações e bem identificáveis. Trabalhar com atores mais jovens me ajuda a me manter atualizado.

De onde sai tanta acidez presente no roteiro?

O humor do filme por vezes é ácido, por vezes é mais doce. Como quase todo mundo, estou sempre consumindo redes sociais e maratonando séries novas. Acho que o tom do humor também é um reflexo dos tempos atuais.