Uma estrada com mais de 400 prêmios, sob a fragilidade de quem não sabia do real potencial (presente na letra da música I didn't know my own strength) e um destino trágico: reforçando todo esse percurso, a diretora Kasi Lemmons (do longa Harriet) compõe a cinebiografia de Whitney Houston. "Vocalmente ambiciosa", como detectou o produtor Clive Davis, que lapidou talentos como Simon & Garfunkel, Janis Joplin e Barry Manilow, Houston se afirmou via Arista Records. O filme, que estreia, parece muito com um melhores momentos — como se fosse uma fita condensada da excelência da artista capaz de angariar o apelido de A Voz. As interpretações de I have nothing e até o mesmo do Hino Nacional norte-americano (num show do Super Bowl), acopladas ao longa, revelam o peso de ser artista do quilate de Whitney.
Atriz à frente da produção, Naomi Ackie dá conta da figura adorável da cantora que, no roteiro algo plano de Anthony McCarten , amava a muitos "perpetuamente" e na extensão do "universo". Por vezes apontada como "vendida" para a indústria, tachada ironicamente como "oreo" (ora "católica branca", ora "não negra o suficiente"), Houston soube se defender do ódio e da desinformação, confirmando a autenticidade do seu talento, sob as asas de Clive (Stanley Tucci, sempre eficiente). A vida pessoal da diva, morta em 2012, aos 48 anos, se funde a um universo em que foi "usada como uma caixa automática", ao reclamar para si músicas com letras empoderadas. Nippy (como era conhecida) enfrentou a ganância do pai (e empresário) John Russell Houston e do marido Bobby Brown, que preconizou a fusão entre R&B e hip hop, e com ela ostentou sucesso. Aos poucos, a eterna "filhinha" de John deixa o posto, na telona.
Dada como "uma má influência para 'a marca' Whitney Houston", a parceira (e amada) Robyn Crawford, diretora criativa da cantora, ganha interpretação convincente de Nafessa Williams. Depois de uma discussão de relação, no meio da rua, com Bobby — numa encenação algo risível —, Whitney chega a trocar de tom, e media uma gritante disputa entre o então marido e a ex-amante, com um pacificado "preciso de vocês dois".
A escalada monumental ("Cantar com os deuses requer uma escada", diz a personagem) é decifrada no filme, a partir do impulso da mãe Cissy (Tamara Tunie), aparentada de Dionne Warwick. Com escolhas profissionais, progressivamente, à revelia, Whitney personificava milhões de dólares em jogo, com sua voz incomparável. Ainda que não cante em todas as faixas, Naomi Ackie causa irrepreensível impressão com a performance de Greatest love of all.
Destacada como a "princesa da América", Whitney, no filme, tem a incursão pelo cinema (como em O guarda-costas, com Kevin Costner) pouco explorada por Kasi Lemmons. Os fãs não terão do que reclamar, ao confirmar presenças icônicas da musa no American Music Awards de 1994 e no concerto da recém-liberta África do Sul, além do televisivo programa de Oprah Winfrey. A derrocada, até a morte na banheira de um hotel, é abrandada com as sequências que fazem parte da etapa monitorada de vida, dada o abuso no uso de drogas. Algo exaustiva, a jornada em cinema, que abraça de turnês à tentativa de reabilitação, tem relevância pelo reiterado e sentido esforço da atriz Naomi Ackie.
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