Num derivado das lendas e dos contos de fadas, com original aparição em Shrek, o Gato de Botas esperou 11 anos para voltar às telas, desde o sucesso em 2011. A popularidade está até mesmo acoplada à trama da nova jornada do felino que, à base de leite tomado na beira dos balcões de obscuros salões e tem legião de fãs no filme assinado por Joel Crawford e Januel Mercado. Uma estrela cadente sinaliza a possibilidade da efetivação de um único grande desejo, quando o protagonista, foragido de várias armadilhas da vida, avança pela floresta sombria, um refúgio para o perseguido gato de enormes tendências narcisistas.
Antigamente afrontoso, o Gato de Botas adentra outra fase, depois de tornado desafeto de um governante e procurado pelo caçador de recompensas Lobo Mau (na voz de Wagner Moura). O assustador personagem, com foices afiadas, implanta um clima de western, com direito à capacidade de detectar um cheiro de medo exalado por protagonista (com a voz do astro Antonio Banderas). Verdade seja dita, há um breve momento de pouco capricho na finalização da animação, com moldes muito estilizados e que destoam.
"Acredite, eu sou caliente", defende o Gato de Botas, ao ver seu antigo prestígio abalado. Num inesperado desfilar das próprias mortes; oito, enumeradas, uma a uma, se vê prestes a forçar a aposentadoria, a fim de viver a nona (e última vida). Na porta de um retiro, apinhado de bichanos de estimação, é hilário ver o desenquadrado felino arriscar um miau, se fazendo de sociável. Não é apenas a entrada em cena de Kitty Pata Negra (Salma Hayek), por quem ele tem uma queda, que recondicionam a vaidade do agora desleixado Gato de Botas, que ostenta uma esquisita barba longa. O antes destemido herói — quiça uma lenda — terá a companhia pouco desejada de Perro, um dócil cachorro que, desprezado, se infiltra entre um improvisado gatil.
Despertada uma corrida entre os demais personagens (que compreendem o insaciável colecionador Pequeno João Trombeta, candidato a ser "o mestre da magia"), o objetivo do Gato passa ser o domínio de um mapa que possibilite a realização de um último desejo. No novo longa da Dreamworks Animation, que traz a sagacidade do mesmo diretor de Os Croods 2: Uma nova era, o uso da personagem Cachinhos Dourados, inserida no seio de uma família de ursos, não rende muita coisa, a não ser o engrossar da ação e do corre-corre. Carente, e dono de inúteis quinquilharias, João Trombeta se torna um coadjuvante interessante, numa crítica à ganância. Quem rouba o filme — em que o bichano central deve aprender a eleger prioridades e aceitar etapas da vida — Perro, impagável entre ingenuidade, excesso de sorte e a graça de usar luvas e suéteres.
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