Olhar para a construção de um cenário e de uma produção de artes visuais a partir de Brasília é uma das propostas da exposição Aqui estou: corpo, paisagem e política no acervo do Museu Nacional da República, em cartaz até julho de 2023. No mezanino do museu, um recorte com cerca de 50 obras escolhidas em um acervo com mais de 1.500 peças propõe ao visitante que pense sobre a arte contemporânea brasileira partindo do contexto brasiliense.
Construído ao longo dos últimos 16 anos, tempo de existência do museu, o acervo reflete, em boa parte, a produção local, embora também seja constituído por muitas peças de artistas de projeção nacional. O recorte é fruto de uma pesquisa realizada pela curadora Sabrina Moura e faz parte de um programa de duas exposições que ocupam o Museu Nacional da República até o fim de 2023. A próxima, programada para o segundo semestre, terá curadoria de Fernanda Lopes. "Nossa ideia é voltar ao plano de deixar o acervo sempre à mostra, como estratégia para sua ampliação, para o cuidado com os processos museológicos", explica Sara Seilert, diretora da instituição. Os projetos foram criados com apoio de um acordo de cooperação técnica internacional com a Unesco, que permite ao museu contratar consultores por meio de chamada pública.
O ponto de partida de Sabrina Moura para criar a exposição foi uma imersão no acervo. "Fiquei seis meses visitando, olhando para as obras, visitando artistas, tentando entender o que havia ali para construir uma narrativa situada a partir de Brasília", explica. A ideia era entender o museu como espaço de produção de conhecimento. "É um museu nacional, mas ocupa um espaço dito periférico, muito entre aspas, nessa cena nacional das artes ditada pelo eixo Rio-São Paulo. Tomei muito como ponto de partida a alegoria do Centro-Oeste, com paisagem do cerrado, em contraponto com a paisagem litorânea", explica a curadora, que tomou emprestado o nome de uma obra de Ralph Gehre para criar o título da exposição.
Sabrina lamenta a visão lacunar que costuma se ter do Museu da República, com um acervo que não cobriria um cenário completo da produção plástica brasileira. "A gente ouve muito isso, mas não é verdade, existem histórias ali que precisam ser narradas e esse é o ponto de vista decolonial que trago, o de poder contar histórias a partir de onde a gente está", avisa. A exposição não é voltada apenas para artistas locais e agrega muitos nomes que passaram pela cidade ou nela nasceram e moraram. Entre os artistas representados estão Hildebrando de Castro, Gisel Carriconde, Fábio Baroli, Adriana Vignoli, Raquel Nava, Fayga Ostrower, Josafá Neves, João Trevisan, João Angelini e Raissa Studart.
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