Crítica

Um amor movido a ganância chega aos cinemas, em filme de Nicolas Bedos

Repleto de bons atores e reviravoltas, o thriller A farsa traz o afiado cinema do diretor francês Nicolas Bedos

Ricardo Daehn
postado em 23/12/2022 07:12
Pierre Niney e Isabelle Adjani estrelam o thriller A farsa
 -  (crédito: Diamond Films/Divulgação)
Pierre Niney e Isabelle Adjani estrelam o thriller A farsa - (crédito: Diamond Films/Divulgação)

Crítica // A farsa ####

O amor fragiliza, cega e traz a festa para os oportunistas de plantão. É com estas credenciais que expõem fraquezas e debilidades daqueles que creem, sem apreço pela inteligência, no amor fulminante, que A farsa se apresenta. Matéria para um thriller de tribunal, com muito rococó nos desdobramentos, vários corações feridos movem a trama do terceiro filme dirigido pelo quarentão Nicolas Bedos e que ganhou pré-estreia no último Festival de Cannes.

Depois de investir numa comédia sobre a atuação de um agente secreto, em meio ao passado de dominação colonial, na África, e de, em La Belle Époque (2019), revelar a força de uma leve comédia apoiada em nostalgia, Bedos usa de sarcasmo e rudeza, com respaldo da literatura de William Somerset Maugham, para desmistificar a beleza da Côte D´Azur (França). Maugham celebrou o soturno que envolvia a beleza da turística região francesa.

Se valendo do sistema de estrelas de Hollywood e do glamour de uma Riviera Francesa contaminada pela especulação imobiliária, o talento do cineasta se projeta. Neste cenário, despontam duas figuras estabelecidas e endinheiradas: a ex-diva de cinema Martha (Isabelle Adjani) e Simon (François Cluzet, de Intocáveis), um magnata empreendedor. Entre flashbacks e camadas de motivações de origem duvidosa, surge o real miolo do filme: os controversos personagens de Pierre Niney, Adrien, um gigolô de luxo, e da belíssima Marine Vacth, Margot, uma alpinista social. O complemento do elenco traz a nata do cinema francês, com direito a Emmanuelle Devos (A número um), no papel da traída Carole e Laura Morante vivendo a ardilosa Giulia.

Não é só a presença de Adjani, no filme, recentemente vista no papel de uma estrela de cinema, em Peter von Kant, assinado por François Ozon, que permite o comparativo entre o cinema de Nicolas Bedos e o do experiente Ozon. Com a montadora do filme Anny Danché dividindo a tarefa com Clément Selitzki, salta aos olhos a agilidade da narrativa do filme de Bedos , e que imprime a mesma velocidade do suspense O amante duplo, justamente montado por Selitzki (habitué do cinema de Ozon).

A dupla frieza dos personagens Adrien e Margot junto com o arsenal de reviravoltas do roteiro, para além das referências a clássicos como Crepúsculo dos deuses (1950), acentuam a beleza de A farsa, ainda mais vistoso com o cuidado na direção de fotografia de Laurent Tangy. Fulgor carnal, pelancas nas arestas de casamentos e limitações de uma vida movida a dinheiro são os alvos do cortante A farsa.

 

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