Crítica // Êxtase ####
Não é apenas no senso plástico, bastante afinado, que o misto entre documentário e ficção Êxtase revela qualidade. Antes de qualquer coisa, é necessário ressaltar que a perspectiva da diretora Moara Passoni é sutil, e comporta dedicação a aspectos da mentalidade da protagonista Clara, enfurnada numa aflitiva rede de fragilidades que a conduz aos efeitos da anorexia.
Fluxo e contra-fluxo de uma sociedade adoecida trespassam as idéias e os ideais de Clara, que mantém interlocução rara entre outras pessoas. Ela parece à deriva, como muitos adolescentes, e bastante consciente do desencaixe no mundo que ainda desconhece. Um ponto azul persegue o geométrico desejo da moça que parece se orgulhar de ser vista como "um fio de aço, gordo", de musculatura rija e sem nada de sobras no corpo. A demarcação da intimidade de Clara soa legítima, não apenas pelo fato de (em parte) retratar realidade pessoal de Moara (que assume dados autobiográficos). Uma séria pesquisa de roteiro (desenvolvido a muitas mãos) acoplou também dados de pessoas atingidas pelo transtorno alimentar.
Com produção de Petra Costa (parceira de Moara em projetos como Democracia em vertigem), o filme deposita muitas fichas no pensamento inconstante da personagem Clara. Além de alguma abordagem política discreta, a capital do país aponta para comparativos entre Clara e as formas de seu pretendido corpo. I´m waiting here (criação musical de Likke Li e de David Lynch) é um dos artifícios usados na obra para desvendar o estado tenaz e preocupante da passagem de Clara pelo mundo. Visto nos Estados Unidos, Suíça e Dinamarca, além de outros 17 países, por festivais diversos, Êxtase, para além do Prêmio da crítica na Mostra de São Paulo, cativou menções relacionadas ao proveitoso teor juvenil (na Alemanha e Espanha) que desenvolve e de capacidade inventiva (em cinema), em competição de filmes no Canadá.
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