Na precariedade, os personagens dos filmes de Marcelo Gomes não deixam de ser felizes. Prova disso, para além do novo longa Paloma, está em filmes como Estou me guardando para quando o carnaval chegar (2019), Joaquim (2017) e Cinema, aspirinas e urubus (2005). No meio rude, metida em plantação do sertão, a trans Paloma (Kika Sena, formada pelo UnB), uma vez realizada ao lado de Zé (Ridson Reis) quer ir além, e avançar em padronizados sonhos de casamento, por tradição, ligados à celebração conjunta e à suposta estabilidade. A Igreja católica, instituição escolhida por Paloma, se mostra arredia às vontades dela.
Parceiro, no cinema, de Karim Aînouz, o pernambucano Marcelo Gomes administra em Paloma (com roteiro escrito ainda por Armando Praça e Gustavo Campos — uma trinca masculina de criadores), a trajetória de uma pessoa que não se deixa marginalizar, a exemplo de Madame Satã, e corre atrás da satisfação. Não quero, por exemplo, uma cerimônia de casamento enrustida, longe dos olhos da comunidade.
Arte educadora com projeção no DF, por peças como Transmitologia, e ainda, pesquisadora de linguagens, no Acre, Kika Sena tem uma presença decisiva no filme rodado em parte em Itacaré e, na outra, no Ceará. Premiado por atuação (Kika foi a primeira trans a vencer o troféu Redentor) e destacado melhor filme em alguns festivais, Paloma sabe transmitir, a partir da câmera, a intimidade de um prazer ou sonho desvelado. Tudo é sobre Paloma e seu habitat, por vezes intolerante, por vezes, lírico. Na dissolução de seu sonho, pelo sufocamento coletivo, Paloma teria alguma saída...Por convicção, vítima ela não é.
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