O diretor Cristiano Burlan, ainda que rigoroso, já contou que não sacraliza a arte. Naturalmente, ela a adere, como uma expressão de vida, e de morte. A mãe, filme do cineasta gaúcho, estreia, tendo a força cênica de Marcélia Cartaxo em primeiro plano. Na fita, ela dá vida a Maria, que, na imensa São Paulo, imerge na dor da falta de convivência com o filho Valdo (Dustin Farias). No roteiro coescrito por Ana Carolina Marinho, Burlan coloca Maria a ver emergir sua relação com a força da natureza, ao tempo em que busca um fiapo de pista para o desaparecimento do filho.
Autor da Trilogia da Morte, no cinema, com filmes documentais do peso de Mataram meu irmão (2013), Cristiano Burlan, no livro Novas Fronteiras do documentário, alertou que "o tema da invisibilidade é inerente a qualquer grande metrópole". No caso do enredo de A mãe, o drama é assentado numa São Paulo cuja violência minimiza as ações de Maria, uma vendedora ambulante que não foge à luta; mas luta honesta e que demande esforços, sem nada de acomodação.
Maria não vai sossegar, tal qual Antígona (remoto embrião da tragédia do filme), enquanto não entender a dinâmica violenta da Polícia Militar, que pode ter dizimado Valdo. Sempre dotado de posicionamento político e social, o cineasta Burlan, naquele mesmo livro de Pedro Sbragia, atrelava a violência do dinheiro da classe social à maior violência que emudece, *muito mais do que a violência da arma de fogo*.
Vencedor de prêmios nos festivais de cinema de Gramado e de Vitória, A mãe trafega na corrente de filmes como M8 — Quando a morte socorre a vida e De passagem, tão reflexivos quanto urgentes. Mais do que testemunhar o percurso de indiferença que Maria vence, o espectador recebe o convite a presenciar a força embrutecida da mulher iletrada que tem um filho poeta de rap.
Debora Maria da Silva, em pontuação documental do filme, legitima a narrativa (com um drama pessoal) do retrato das incansáveis mães da periferia.
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