Crítica // Nada é por acaso ##
Mais associado a filmes com conteúdo infantil e ainda com comédias, o diretor de cinema Márcio Trigo comanda a primeira adaptação de um texto de Zibia Gasparetto para as telas de cinema. Numa escolha pouco prudente, a produção optou por um roteiro assinado por Audemir Luzinger e Claudio Torres Gonzaga, também com carreiras associadas a comédias populares e pouca projeção no terreno mais adulto.
Quem puxa o enredo de estrutura muito complexa é Marina (personagem de Giovanna Lancellotti). Depois de uma misteriosa viagem para Londres, ela busca reestruturar a vida, ao lado do irmão e da mãe. Marina enfrenta barreiras na dificultosa relação íntima com um terapeuta disposto a instrumentalizar a sua felicidade. Rafael Cardoso é quem dá vida ao personagem, também chamado Rafael. Com a carreira profissional em alto foco extremado, a protagonista ignora certos sentimentos de culpa associados à existência de Maria Eugênia (Mika Guluzian) que, casada com Henrique (Tiago Luz), exalta um valor muito particular: "Minha família é tudo para mim".
Agente complicador, numa realidade de reencontros dos personagens, Pierre é interpretado por Fernando Alves Pinto (Terra estrangeira). Muito sigilo é multiplicado pelas vidas de todos, atopetadas de fraquezas. Curioso é que, repleto de serenidade e entendimento, o longa Nada é por acaso chegue junto ao desentendimento estimulado por facção de brasileiros. No lugar da frieza e da covardia de alguns personagens, paulatinamente, o enredo revitaliza existências dos personagens dispostos num tabuleiro em que pesam desprendimento, mobilização por ajuda e por fortalecimento de amizades. Ao final, o filme, na teia de reconciliação proposta, aponta para sábios valores de perdão, agradecimento e entendimento. Uma simplória, mas digna, realização em cinema.