Crítica // Carvão ####
Não é pouco perceber o intenso brilho da atriz brasiliense Maeve Jinkings, no desenvolvimento do filme Carvão, que marca a estreia de Carolina Markowicz em longa-metragem (depois de cocriar a série da Netflix Ninguém tá olhando). Maeve traz na carreira momentos potentes do cinema nacional, em filmes como O som ao redor, Açúcar, Boi neon e Amor, plástico e barulho. Desta vez, na coprodução argentina, Maeve dá vida à resoluta Irene, o esteio de uma família do interior paulistano.
Contando com elenco, no bojo, completamente brasiliense, Markowicz coloca em cena Camila Márdila (na pele da bisbilhoteira Luciana) e Romulo Braga, na pele do fraco e paspalhão braçal Jairo. Também ligado ao dia a dia da carvoaria de Irene está o pequeno Jean (uma revelação que, na vida real, atende por Jean Costa). Premiado no âmbito do Festival de Toulouse (França) e exibido ainda nos internacionais certames de San Sebastian (Espanha) e Toronto (Canadá), Carvão toca em temas recorrentes na filmografia nacional: com ênfase para a violência, o tráfico de drogas, criminalidade, pobreza e efeitos de um nefasto assistencialismo.
No retrato de mulheres fortes, a coadjuvante Aline Marta Maia (vista em Casa de antiguidades) dá uma cartada forte que lhe rendeu prêmio de atriz coadjuvante, na seção Première Brazil do Festival do Rio. Com respaldo religioso, a personagem tem vital associação num plano nefasto que coloca em cena o misterioso personagem de Cesar Bordón (Relatos selvagens) no seio da família de Irene.
Num meio rural, a família se prova sufocada, numa tensão criada por pesadas decisões de baixa ordem moral e espiritual. Num filme calibrado pela direção de arte assinada por Marinês Mencio, a diretora Carolina Markowicz, a partir de um enredo simples, abala, pelos fortes sentimentos de indignação e indignidade que administra; de quebra, ainda demove uma penca de preconceitos.
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