Crítica // Kevin ###
Foi há seis anos, durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro que a produção luso-brasileira A cidade onde envelheço (de Marília Rocha) venceu o prêmio central, a partir da trama do reencontro de duas amigas. Na tela, despontavam sororidade, e havia personagem pronto e disposto a deixar o Brasil. Numa estrutura de filme que reorganiza estes conflitos, o longa mineiro Kevin, igualmente produzido por Luana Melgaço e com técnicos como Gustavo Fioravante e Clarissa Campolina (presentes naquele filme de 2017), chega às telas do cinema.
Com roteiro de Joana Oliveira (também diretora do filme), Laura Barile e Tatiana Carvalho Costa, Kevin resgata uma ponte cultural que atravessa Alemanha, Brasil e Uganda. A africana Kevin Adweko e a brasileira Joana se conheceram, estudantes, na germânica Reutlingen. Um reencontro, protelado, entre as amigas da vida real se concretiza, com o desenvolvimento do longa. Daí, com grande placidez, no exame de desejos do passado (teriam sido
efetivados?), na renovação de perspectivas e no sufocamento de desejos, o filme de traçado documental se realiza.
Atuante mãe, que segue solteira, Kevin rouba a cena, com brandas convicções sobre a possibilidade de mudar o mundo e mesmo quando executa tarefas corriqueiras como cozinhar e levar a filha para a escola. Joana, diretora que, em 2010, respondeu pelo longa-metragem Morada, em torno de uma mulher que espera a casa ser desapropriada, novamente, em Kevin, se apega ao lastro do passado e em como nos deixam marcas.
Numa realidade em que vê o pai (uma fortaleza a ruir) adoecer, e conta com percalços no casamento, Joana se apega à sororidade e se permite vivenciar a transformadora viagem para Uganda, em que supera fragilidades e vê Kevin abater carga de preconceitos, com uso da inteligência e da sensibilidade. Uma lição terna e nada ruidosa.
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