Cinema

Cidadania entre a dor e a animação conduzem o filme 'Meu tio José'

Premiado longa 'Meu tio José' traz dados da vida de um ex-guerrilheiro brasileiro integrante da Dissidência da Guanabara

Às vésperas das eleições, a Origem Produtora de Conteúdo, com sede em Salvador, disponibiliza, em circuito independente, uma animação que alia duros fatos da história brasileira ao olhar infantil: Meu tio José. Escrita e dirigida por Ducca Rios, a animação, feita em preto e branco, revela parte da vida de José Sebastião de Moura, um integrante do grupo de esquerda Dissidência da Guanabara. Adonias, na trama, busca integrar as memórias do tio ligado a grupo que participou do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969.

Um tio espontâneo nas brincadeiras com crianças vem à mente do ilustrador, mestre em políticas sociais e músico Ducca Rios, roteirista do filme, e que tem pós-graduação em Computação Gráfica. Desenhado a mão, o filme competiu, ano passado, na categoria Contrechamp no Festival de Annecy (França), o mais destacado no segmento da animação.

Foi o quarto filme completamente brasileiro a disputar prêmios no evento. Meu tio José foi dado como o melhor longa no Festival Seattle Film Festival (USA) e obteve menção honrosa no BIFF — Festival Internacional de Cinema de Brasília, tendo ainda vencido o Ficimad (em Madri), o Viff (Vancouver) e o Animation Studio (Paris), numa lista de 20 festivais pelo mundo.

Para nutrir com verdade a fita, o diretor se apoiou em José, que, exilado por mais de uma década, volta ao Brasil, tendo sido morto em circunstâncias motivadas por posicionamento político-ideológico. Na trama do longa, o pequeno Adonias (com a voz de Cauã Levi) recebe a tarefa de criar uma redação, justo no dia em que o tio dele sofre um atentado, em 1983.

O destino do ex-guerrilheiro, hospitalizado em estado grave, gera, junto com depressão e angústia, uma rede de discriminação para familiares do garoto. Lidando com um crime sem solução, o cineasta baiano admite a breve inspiração em outro conterrâneo — Glauber Rocha, na busca por um cinema efetivamente nacional.

Nas dublagens da animação, destaques para Wagner Moura, que dá voz a José; Tonico Pereira, na pele de um diretor de escola de José e Lorena Comparato que dá vida à professora Adriana. Jackson Costa e Bertrand Duarte também emprestam vozes ao filme. Cinco músicas de Chico Buarque estão integradas à trilha sonora, entre as quais Roda viva, Construção e Apesar de você.

 

Saiba Mais