Vivenciar uma experiência de estagnação é o desafio imposto ao protagonista da mais nova comédia assinada pela diretora brasiliense Cibele Amaral: Rir pra não chorar. À frente de uma consolidada carreira cômica, Flávio Pontes (interpretado por Rafael Cortez) tropeça num drama íntimo — a mãe dele, Dona Graça, descobre um tumor "em alta velocidade" e que pode lhe render uma "sobrevida" (termo que ela tanto abomina). Com a autoconfiança abalada, Flávio tem por rede de apoio a companhia da irmã retraída (Mariana Xavier), da empregada doméstica Francisca (Luci Pereira) e da tia Neide (Catarina Abdalla).
Sob um roteiro concebido por Cibele Amaral, o longa consegue bons resultados, numa primeira etapa — quando fica escorado no espontâneo talento de Fafy Siqueira (O Shaolin do sertão), que representa Dona Graça.
Em crise, e ciente de uma desmedida dependência materna, Flávio se percebe cada vez menos engraçado. "Só tenho um vazio mesmo", detecta, a dado momento do enredo. Num estado catatônico e desorganizado, o personagem exige um estofo dramático desajustado a Rafael Cortez que, em cena, conta com breves e bem-vindos apoios dos colegas de stand-up Maurício Meirelles e Oscar Filho.
Estapeado pelo destino, a todo momento, o "palhaço" Flávio encontra tipos interessantes como o carteiro que rende uma breve e saudosa ponta de Andrade Júnior, capaz de reforçar: "Aguente, a vida é assim mesmo". Dotado de observações que enquadram o politicamente correto do humor, Rir pra não chorar traz uma tentativa de equilíbrio entre drama e humor, algumas vezes, em nada, afinados. O longa, em certa medida, faz lembrar, brevemente, a carga sentimental de Minha mãe é uma peça 2, com o bônus de algumas dinâmicas cenas de psicoterapia e outras muito divertidas sobre fama como a protagonizada, num estacionamento, por Victor Leal.