Cinema

Crítica: 'Enquanto estamos aqui' é elaborado e desencantado

Filme de Clarissa Campolina e Luiz Pretti, 'Enquanto estamos aqui' conta a história de dois personagens à deriva num mundo cheio de batalhas

Quem acompanha obras dos colaborativos diretores Clarissa Campolina e Luiz Pretti, entre as quais o curta Trecho (2006) e o longa Estrada para Ythaca (2010), sabe do pendor de investirem num cinema repleto de pontuações que valorizam a individualidade dos personagens, a intimidade e a propensão de seguirem em movimento, ainda que numa dinâmica que nem sempre os agrade.

Aos moldes de confissão e intimidade percebidos no longa Viajo porque preciso, volto porque te amo (assinado por Karim Aïnouz e Marcelo Gomes), Enquanto estamos aqui é elaborado. Trata, fundamentalmente, de dois seres à deriva, porém encorajados nas batalhas de um mundo afeito à globalização. Praticamente, ambos se restringem a vozes (alternam-se vários narradores, entre os quais Grace Passô e Marcelo Souza e Silva): Lamis é sírio-libanesa e Wilson traz na bagagem fardos e alegrias de ser brasileiro. O novo, no encontro numa Nova York nem sempre receptiva, se descortina para os imigrantes. Curiosamente, o filme tem entre os narradores Fernando Alves Pinto, visto em Terra estrangeira, clássico nacional que também especulava em cima de um Brasil desencantado.

Trilhando conteúdo por vezes, filosófico, e, noutra medida, corriqueiro, o filme não tem propriamente diálogos, tudo se passa na desordenação dos pensamentos dos personagens e no fluxo de seus dramas, bastante descritos em cartas. Com isso, despontam desilusões; opressão; apego (mútuo), mas em conjuntura de frágil; enlace amoroso; e muitos respiros e dores das raízes bastante alinhados às infâncias de Lamis e Wilson. Pesa, por fim, a dinâmica incerta de almas que se ajustam à condição de serem miúdas, mas persistentes, por conquistarem algo de felicidade.

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