Crítica // Adão Negro ###
Aparentemente, há um trono vago e fragilidades na liderança da milenar cultura que acolhe o personagem-título do mais novo produto cinematográfico do Universo DC. Resta saber, entretanto, se Adão Negro — eleito por magos para propagar ilimitados poderes, e invocado para uma catastrófica missão — teria disposição para botar ordem numa realidade apinhada de mercenários e na qual o povo clama por dominar o poder. Sob o manto da esperança, para uma era sombria, e neoimperial, ainda autoproclamado Homem de Preto, o futuro Adão Negro ganha a marotice e o jeitão de herói relutante bem adequado ao ator Dwayne Johnson, pela vida, associado à figura de ex-lutador The Rock.
Renascido Deus, passado período de escravidão, Adão Negro terá muito a aprender, ao se ajustar no enredo do filme assinado por Jaume Collet-Serra e que cita, indiretamente, imagens da Mulher-Maravilha, de Flash e Batman, além de polir o pedestal reservado a Super-Homem. A rebelde Adrianna (Sarah Shahi), mãe do descolado Amon (personagem de Bodhi Sabongui), se junta a cidadãos revoltados como Karim (Mohammed Amer). É a partir do contato com este rebelde grupo que Adão Negro vai tatear os princípios de ser um herói, numa situação muito modificada, ao interagir com integrantes da Sociedade da Justiça liderados por Gavião Negro (Aldis Hodge), Ciclone (Quintessa Swindell) e Esmaga Átomo (Noah Centineo). Esses dois últimos, uma ligada ao controle do vento e o outro capaz de se tornar gigante, se mostram novatos despreparados, em contraponto ao experiente Senhor Destino (Pierce Brosnan).
Tanto a inscrição gravada em uma coroa ("A vida é o único caminho para a morte") quanto um elmo poderoso (que faz ecoar o escudo da concorrente Marvel) modificam o curso do enredo de Adão Negro. O anti-herói, na tela, traz a capacidade de se deslocar abruptamente, catar mísseis já acionados e requisitar forças geradas pela fúria (com efeitos eletrizantes). Com um quê de Exterminador do futuro, impassível e seguro de si, o "intruso" Adão Negro (no passado, conhecido como Teth-Adam) descobre um novo mundo em que levita (fazendo lembrar o General Zod de Superman), trava o primeiro contato com um televisor e, numa brincadeira do filme de ação do diretor Jaume Collet-Serra (o mesmo de A órfã e Águas rasas), absorve gestos de um clássico filme com Clint Eastwood.
Entre complôs e ironia, e um enredo que evidencia pesos da tradição e da herança, Adão Negro traz bons efeitos (apesar de incorporar uso de pouco impacto de câmera lenta), abraça um pouco de humor de tiozão e, de quebra, aposta no uso das músicas Baby come back e Paint it, black (do The Rolling Stones). Uma das melhores cenas emula o multiverso da Marvel, criando uma confusão mental similar, quando do efeito da ilimitada multiplicação do Senhor Destino.
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