É inesperado e quase um contrassenso apontar beleza no mais recente documentário conduzido por Lucas Bambozzi, Lavra. O encanto do filme do artista mineiro, por vezes identificado pela expressão na videoarte, rendeu dois prêmios Candango, no mais recente Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: melhor fotografia (Bruno Risas) e menção honrosa. Poesia brota de um tema árduo, e que nunca deveria ser minimizado pelos brasileiros: o consumo de paisagens e pessoas que decorreram de ações criminosas em minoradoras instaladas em Minas Gerais.
Um extrativismo que dizimou seres vivos e fez cidades inteiras reféns, subjugadas perante o esmagador poderio econômico de empresas irresponsáveis, passeia, na tela, sob escrutínio de populares. Há sabedoria em quem destaca que "respira" minério e ainda em jovens moradores capazes de enfatizar: "tiram um pedaço da gente, toda hora, para vender".
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Antes mesmo da tragédia em Brumadinho, a equipe de Lavra estava em campo, acompanhando crime vivenciado em 2015, com o rompimento da barragem de mineração em Mariana (MG). Questionar, por muitos ângulos, os supostos desenvolvimentos que intoxicaram o Rio Doce é dos méritos do longa. Reflexos do alojamento de rejeitos de minério de ferro, as adulterações das paisagens e disparates como o do epicentro do ecoturismo Conceição do Mato Dentro ficar à mercê da mineração estão estampados no filme de Bambozzi.
A esses efeitos devastadores — ceifadores de centenas de vidas — o filme, que denuncia crimes ambientais atrelados a mais de 650 quilômetros de biodiversidade esmagada, aposta em renascimentos como o da esperança ante a mobilização de cidadãos prejudicados pela conjuntura. Junto com a perseverança, uma parada na Itabira de Carlos Drummond de Andrade aponta a singela sabedoria estarrecedora do poeta, bem ajustada ao roteiro de Christiane Tassis que redimensiona ideias da geógrafa Camila, municiada de muitos dados e saída da vida real, e que ganha muito na interpretação da atriz Camila Motta.
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