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Televisão

Tatiana Tiburcio destaca importância de ressignificar imaginários coletivos

No ar em "Garota do momento", Tatiana Tiburcio consolida carreira como atriz, produtora e uma voz importante no audiovisual

A atriz Tatiana Tibúrcio, de 47 anos, está mais uma vez conquistando o público, agora com sua atuação em Garota do momento. Com uma carreira de mais de 13 anos na televisão, a carioca passou por diversas fases e projetos marcantes, incluindo a estreia na série Suburbia, em 2012, e o ápice ao interpretar a mãe da protagonista Aline, em Terra e paixão, em 2023. Esse convite veio após, em 2020, integrar o elenco de Falas negras, um programa especial do Dia da Consciência Negra, trabalho pelo qual venceu o Troféu APCA de melhor atriz, dividindo o prêmio com Camila Morgado, por Bom dia, Verônica.

"Vejo uma trajetória muito bem construída e consolidada", afirma Tatiana, ao refletir sobre sua carreira. "Sinto orgulho do que conquistei e fico feliz com as escolhas que fiz ao longo do caminho." Com uma sensação de realização e satisfação, Tatiana destaca que, se pudesse voltar no tempo, não mudaria nada em sua trajetória.

Na atual novela das 18h, Tatiana interpreta a personagem Vera, uma mulher que traz uma mensagem de esperança e resiliência. "Está sendo um sonho", disse a atriz, sobre a experiência de cantar em cena. "Sempre quis fazer um personagem que cantasse, porque acho a música algo muito lindo. Eu não sou cantora, acho que sou só 'afinadinha', mas sempre tive vontade de cantar em cena. Justamente por ser algo tão precioso, tão subjetivo, queria muito trazer isso para dentro do meu ofício. E agora estou tendo essa oportunidade com a Vera — o que é mágico."

No entanto, Tatiana também destaca os desafios de interpretar Vera, incluindo a necessidade de cantar e desconstruir estereótipos. "Há o desafio de desconstruir um imaginário muito presente na figura da personagem — o imaginário da Tia Nastácia. A pergunta que me move é: quem é essa mulher para além do estereótipo? Como atribuir a ela uma identidade própria, humanizá-la e torná-la viva de verdade? Ao fazer isso, ao olhar para ela com profundidade, conseguimos retirá-la do lugar comum e dar a ela uma existência mais rica, mais real", defendeu.

Representatividade

Tatiana enfatiza a importância da representatividade no audiovisual, especialmente em projetos como Garota do momento. "Eu me sinto feliz por ver essa representatividade acontecendo", afirmou. Tatiana destaca que a mudança é necessária e que a dramaturgia pode ser uma ferramenta poderosa para transformar o imaginário coletivo. "Ainda vemos estereótipos e arquétipos sendo repetidos e reproduzidos, mas também já é possível enxergar uma resistência e uma abertura para transformar esses imaginários — mesmo que, muitas vezes, ainda se parta desses próprios estereótipos", argumentou ela, destacando o fato de ter sido convidada pela Netflix para viver a dona de um resort em um filme. 

Múltiplas funções

Além de atuar, Tatiana também é produtora e diretora. Ela concilia essas funções de forma natural, destacando que gosta de estar trabalhando e envolvida em muitos processos ao mesmo tempo. No entanto, também enfatiza a importância de ser reconhecida como atriz, sua função mais realizada. A atriz tem planos de criar um monólogo com um texto que transite pelo universo do realismo fantástico, abordando a discussão racial. "A ideia é trabalhar esse enredo dentro da discussão racial, que é um tema que me mobiliza profundamente e me dá muito prazer explorar artisticamente", afirmou. "Meu plano é manter essas duas frentes — atuar e dirigir — caminhando de forma equilibrada. Vamos ver até quando consigo manter esse equilíbrio."

Para jovens atrizes que estão começando sua carreira, Tatiana ofereceu um conselho valioso: "Saiba como você quer ser lembrada. Se você conseguir responder a essa pergunta, vai ter mais clareza sobre quais projetos fazem sentido para você e vai conseguir fazer escolhas mais alinhadas com a sua verdade." Ela enfatiza que não existe uma fórmula certa, mas sim a necessidade de ser autêntico e verdadeiro em sua arte.

Arquivo pessoal - Tatiana Tiburcio, atriz

Entrevista| Tatiana Tiburcio

Você está celebrando 13 anos desde a estreia em Suburbia na TV Globo. Como você reflete sobre sua carreira até agora?

Como eu reflito sobre minha carreira até agora —, vejo uma trajetória muito bem construída e consolidada. Sinto orgulho do que conquistei e fico feliz com as escolhas que fiz ao longo do caminho. É uma sensação boa olhar para trás e pensar: “Por mais difícil ou doloroso que tenha sido em muitos momentos, se eu pudesse voltar, não mudaria nada. Faria tudo de novo”

Em Garota do momento, você interpreta a personagem Vera. Como está sendo essa experiência de trazer a música pra composição e quais são os desafios de interpretar essa personagem?

Está sendo um sonho. Sempre quis fazer um personagem que cantasse, porque acho a música algo muito lindo. Ela toca a alma. Para mim, é o diálogo mais profundo que conseguimos ter com alguém. A música alcança, independente do idioma ou de qualquer outra barreira — ela chega direto ao coração.
Eu não sou cantora, acho que sou só “afinadinha”, mas sempre tive vontade de cantar em cena. Justamente por ser algo tão precioso, tão subjetivo, queria muito trazer isso para dentro do meu ofício. E agora estou tendo essa oportunidade com a Vera — o que é mágico. Quanto aos desafios de interpretá-la, eles estão diretamente ligados a esse processo: o desafio de cantar, mesmo sem ser cantora, e o desafio de desconstruir um imaginário muito presente na figura da personagem — o imaginário da Tia Anastácia. A pergunta que me move é: quem é essa mulher para além do estereótipo? Como atribuir a ela uma identidade própria, humanizá-la e torná-la viva de verdade? Ao fazer isso, ao olhar para ela com profundidade, conseguimos retirá-la do lugar comum e dar a ela uma existência mais rica, mais real. Então, os dois maiores desafios são esses: cantar, apesar de não ser cantora, e revelar essa humanidade que vai além dos estereótipos

Como você se sente sobre a importância da representatividade no audiovisual e como enxerga essa mudança?

Eu me sinto feliz por ver essa representatividade acontecendo — e, mais do que isso, acontecendo de forma construtiva. Existe, sim, uma tentativa constante de desconstruir um imaginário social já estabelecido. Ainda vemos estereótipos e arquétipos sendo repetidos e reproduzidos, mas também já é possível enxergar uma resistência e uma abertura para transformar esses imaginários — mesmo que, muitas vezes, ainda se parta desses próprios estereótipos. Por isso, olho com muito bons olhos quando, por exemplo, a Netflix me convida para interpretar a dona de uma rede de resorts em uma comédia romântica. Isso é a prova de que o trabalho de todos que vieram antes de mim — e de todos que seguem lutando agora — está, sim, valendo a pena. Essa mudança é necessária porque a dramaturgia, seja no teatro, na TV ou no cinema, sempre foi uma ferramenta extremamente poderosa para transformar — seja ratificando ou retificando — o imaginário coletivo. Quando a diversidade começa a ocupar esse espaço, é o reflexo daquela máxima: a vida imita a arte, e a arte imita a vida. Não sabemos exatamente até que ponto uma influencia a outra, mas é um fato que ambas se transformam mutuamente — e, muitas vezes, uma chega até a determinar a outra.

Você é atriz, produtora e diretora. Como você concilia essas múltiplas funções e quais são os desafios de trabalhar em diferentes áreas do audiovisual?

Essa conciliação acontece de forma muito natural, porque eu realmente gosto de estar trabalhando. Tenho essa necessidade de estar em movimento, de estar envolvida em muitos processos ao mesmo tempo.
Às vezes, como aconteceu recentemente na última produção da Disney, estou atuando como preparadora de elenco e atriz ao mesmo tempo. Isso já aconteceu outras vezes também — em Falas negras, por exemplo. Essa sobreposição de funções é algo que tem sido recorrente na minha trajetória. É um trabalho complexo, sim. Mas, para mim, quanto mais desafiador, mais prazeroso. Então, conciliar essas funções nunca foi um transtorno — é algo que flui. O grande desafio mesmo é fazer com que as produções não se esqueçam de que, por mais que eu dirija ou atue na preparação de elenco, eu sou, essencialmente e acima de tudo, atriz. Essa é a função na qual eu mais me realizo e onde encontro o maior prazer.
Eu gosto de dirigir, gosto de preparar elenco — mas estar em cena é o que me completa. Porque, quando estou atuando, penso com o olhar da direção, penso nas intenções com o olhar da preparadora. É como se todas essas funções se unissem em uma só quando estou ali, em cena.

Quais são seus projetos futuros? Você tem algum plano para continuar trabalhando em frente às câmeras ou está se concentrando mais em sua carreira por trás das câmeras?

Tenho um projeto de criar um monólogo com um texto que transite pelo universo do realismo fantástico — uma linguagem que sempre me instigou muito. A ideia é trabalhar esse enredo dentro da discussão racial, que é um tema que me mobiliza profundamente e me dá muito prazer explorar artisticamente.
Esse projeto tem ganhado força na minha cabeça, e eu venho alimentando essa ideia de todas as formas possíveis e imagináveis. Além de atuar, também quero dirigir — não sozinha, mas em parceria. Ainda assim, não me vejo inclinada exclusivamente para um lado ou para o outro. Meu plano é manter essas duas frentes — atuar e dirigir — caminhando de forma equilibrada. Vamos ver até quando consigo manter esse equilíbrio.

Como você acha que sua experiência em Garota do momento está influenciando seus projetos futuros?

Acredito que todo trabalho bem-sucedido contribui positivamente para projetos futuros. Garota do momento é um projeto que considero muito bem-sucedido em todos os aspectos — desde o texto, a direção, a interpretação dos colegas, até a fotografia e a direção de arte. É realmente um trabalho vitorioso. Então, é claro que ele acaba influenciando de forma positiva o que ainda está por vir. E eu espero, de verdade, que venham muitos projetos. Estou aqui, pronta.

Você foi mãe da protagonista de Terra e paixão, um sucesso no horário nobre. Como foi essa experiência e como você acha que isso mudou a sua carreira?

A experiência em Terra e paixão foi uma delícia. Tenho tido muita sorte de entrar em projetos que funcionam muito bem no aspecto humano. Tive parceiros de cena maravilhosos, que carrego comigo no coração, para a vida toda. Tive também a honra de contracenar com uma atriz que admiro profundamente: a Glorinha Pires. Cresci assistindo ao trabalho dela — e não digo isso fazendo alusão à idade, mas sim à referência que ela sempre foi para mim em termos de competência e excelência. Sempre admirei a naturalidade com que ela atua, algo que eu mesma sempre busquei. E, de repente, lá estava eu dividindo cena com ela, construindo personagens juntas, debatendo qual seria o melhor tom. Foi uma experiência maravilhosa. Conheci a Bárbara Reis, que interpretava minha filha; o Paulinho Lessa, um amor antigo da vida; o Cauã, que é um querido; e, claro, o Flavinho Bauraqui — meu irmão da vida inteira. Mas não foi só o meu núcleo. O elenco inteiro tinha uma energia muito boa, daquelas que fazem você ter vontade de ir trabalhar, de estar presente. E isso impacta diretamente no trabalho. Ter uma equipe que caminha junto com você, que compartilha da mesma entrega e do mesmo entusiasmo, faz toda a diferença. Não posso dizer que essa experiência mudou a minha carreira, mas ela, com certeza, coroou as escolhas que fiz até aqui. É como se eu estivesse colhendo os frutos da trajetória que construí — e esses frutos estão doces, estão bons. E eu espero, sinceramente, que continue assim.

Você tem algum conselho para jovens atrizes que estão começando sua carreira no audiovisual?

O conselho que eu dou é: saiba como você quer ser lembrado. Se você conseguir responder a essa pergunta, vai ter mais clareza sobre quais projetos fazem sentido para você e vai conseguir fazer escolhas mais alinhadas com a sua verdade. Não existe uma fórmula certa, não existe um único caminho, porque somos diversos, únicos. Podemos ter apoio de todos os lados, contar com uma rede sólida ao nosso redor — mas, no fim das contas, o passo na estrada é sempre nosso. Então, se pergunte: “Que artista eu quero ser?” Não pensando na glamourização da profissão, mas refletindo sobre a essência do seu trabalho, sobre o impacto que você quer deixar. Quando falarem o seu nome, o que você quer que venha à mente das pessoas? Se você souber responder isso com sinceridade, já tem metade do seu sucesso garantido.

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