
Kaê Guajajara cresceu no complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro. Ela deixou o Maranhão aos 7 anos à procura de melhores condições de vida. Hoje, aos 31, Kaê é conhecida por representar o estilo "música popular originária" e compartilha nas redes sociais vídeos de performances, shows e apresentações carregadas de significados e histórias.
A artista se autodenomina "diva pop indígena", termo que segundo ela, surgiu de forma provocativa e natural, como uma resposta aos estereótipos colocados sobre os povos originários pela sociedade. “Sempre esperam que a gente seja do passado, silenciosa, exótica ou apenas espiritual. Quando eu subo no palco com brilho, batom, coreografia e potência, muita gente estranha”, detalha a cantora ao Correio.
“Eu assumo o título de diva pop indígena com orgulho. Sou indígena, sou pop, sou diva — e posso ser tudo isso ao mesmo tempo. A gente pode ocupar qualquer espaço, com voz, estilo e ancestralidade”, completa.
O estilo de música feito pela artista é a união entre a cultura dos povos originários a música pop, criando uma ponte entre o ancestral e o contemporâneo. “Uso as batidas modernas, beats eletrônicos, mas trago junto os cantos, as línguas, os saberes e a cultura do meu povo. É como tatuar a memória no som — mostrando que ser indígena também é estar no agora, com corpo, voz e atitude”, relata.
Kaê começou a cantar ainda quando pequena como uma forma de expressão. “A música foi o jeito que eu encontrei de transformar dor em força, invisibilidade em presença. Ela é uma extensão do meu corpo, da minha história e da minha luta”, diz a cantora.
Quando o assunto é referências e gostos no meio musical, Kaê é eclética, ouvindo de tudo um pouco. “Na minha adolescência eu ouvia muito músicas experimentais e alternativas, como Sia, Lorde, Arctic Monkeys, Bjork, Tame Impala, Cage The Elephant, Fresno, Pitty, Warpaint, e também muito hip hop anos 2000”, conta Kaê. Ao unir os diferentes estilos, fundindo batidas eletrônicas aos instrumentos indígenas, Kaê percebeu que estava criando um novo gênero musical.
A música e o trabalho carregam muito significado para a artista. É uma forma de se conectar com os ancestrais e também de se ligar à pessoas que passam pelas mesmas lutas. “Comecei a escrever para entender o mundo, e acabei descobrindo que, ao transformar minhas vivências em versos, eu também criava pontes com outras pessoas que se sentem deslocadas. A música virou meu espaço de fala, de cura, de resistência”, conclui.
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*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes