Crítica

Pilha de nervos: suspense do diretor Soderbergh traz silêncio e tensão

Filme dirigido por Steven Soderbergh narra a historia de uma pequena família desnorteada que tenta manter a saúde mental

Presença: tudo na base do completo suspense  -  (crédito: Diamond/ divulgação)
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Presença: tudo na base do completo suspense - (crédito: Diamond/ divulgação)

Crítica // Presença ★★++-

Uma casa vazia, à disposição, por uns dias, para os jovens filhos de um casal bem ocupado. O que seria um sonho vira pesadelo para Chloe (Callina Liang) e Tyler (Eddy Madday) no filme Presença, que foi rodado quase em segredo, em 11 dias, orçado em básicos U$ 2 milhões. Chloe e Tyler integram uma pequena família desnorteada por acontecimentos recentes e que tentam zelar pela saúde mental, em especial a de Chloe. Uma tênue linha entre vida e morte promete atormentar na trama em que, como um dos personagens atenta, o tempo parece inexistir. Chris Sullivan interpreta, no filme, Chris, um homem em crise conjugal e que aguenta situações descabidas, quando ao lado da esposa Rebekah (Lucy Liu), à frente de ações ríspidas.

Um silêncio devastador e conversas sobre terapia rondam o distanciamento calculado dos familiares. Quem promete movimentar o dia a dia de todos é Ryan (West Mulholland), elemento que aumenta a carga de suspense na trama desenvolvida por David Koepp, roteirista reconhecido de filmes agitados como Ecos do além (1999) e Anjos e demônios (2009), além do mais recente Indiana Jones. Vale ressaltar, entretanto, que aqui a proposta é outra: a edição do filme chega toda picotada e o longa é dirigido por Steven Soderbergh, conhecido pela filmografia irregular e por filmes nada pessoais (vide o contraste entre Che, Magic Mike e Código preto).

Nesta nova produção, que desponta no vazio de uma casa e de quartos, em que a câmera, obstinadamente, vasculha ângulos e escape, há um quê do celebrado Shyamalan, com o objeto a ser explorado ainda sem foco. Nada, a princípio, é muito linear e o efeito mecânico na tela lembra um experimento de quase 20 anos, quando o amalucado Lars von Trier captou a percepção bem impessoal do Automavision, mecanismo em que, sem decisões humanas, uma máquina detinha as imagens empregadas no longa-metragem O grande chefe.

Um incômodo paira com a demanda subjetiva da câmera e com momentos em que as encenações parecem até (com propósito de autenticidade) amadores. Em algumas cenas, o pai se diz no fundo do poço, enquanto a mãe não quer ver a filha "arrastar todos juntos" na falta de "conserto" (como se ela fosse empecilho) a ela reservada. Ao redor, o inexplicável está nos objetos que voam, nas mexidas suspeitas (dentro do armário) e nas portas que se fecham, abruptamente. Algumas mortas — que teriam tomado "paradas ruins" — são citadas por Ryan, personagem que divide as atenções dos irmãos Chloe e Tyler.

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Uma animosidade firme entre o pai e o filho, junto com citações a bullying e à instabilidade mental conseguem prender a atenção, agitando o que poderia derrapar para um filme com tiques ao estilo de Atividade paranormal. Alertas trazidos por uma sensitiva e a existência de um antigo espelho deixam o enredo mais tenso. Estar no comando parece uma meta para a aquietada Chloe: e lá está a porta aberta para, como diz um personagem, invocando Deus ou um sonho (leia-se, pesadelo).

 

postado em 08/04/2025 09:00 / atualizado em 08/04/2025 09:02