
A sala de aula ficou pequena para o professor Ailton Fagundes, 48 anos. Celebrando o jubileu de prata desde a graduação no curso história pelo UniCeub, ele apresenta a exposição Mongólia e o impressionante Povo das Renas, resultado de uma longa expedição ao misterioso país do célebre imperador Gengis Khan. A mostra estará em cartaz na Galeria Olho de Águia (CNF 3, Edifício Praiamar), em Taguatinga, a partir de 16 de abril. "É sobre a Mongólia, a cultura do país e o povo, mas focará sobretudo no aspecto nomádico da vida nas estepes. A exposição terá como destaque o povo nômade Tsaatan, os últimos cavalgadores de renas do mundo, que fugiram das perseguições stalinistas dos anos 1930 para a Mongólia. O trabalho é fruto de uma expedição difícil, de vários dias a cavalo sob duras condições climáticas, para alcançar e visitar essa magnífica cultura que gira em torno das renas", explica o historiador.
Esta será a segunda mostra fotográfica promovida pelo professor com vocação para aventuras exploratórias mundo afora. A primeira, realizada em 2022, teve o título Atlas da Ásia, com 30 fotos em tamanho ampliado e centenas, pequenas, espalhadas pelo salão. No atual trabalho, acerca da Mongólia, Ailton conta com auxílio luxuoso do fotojornalista Ivaldo Cavalcante, proprietário da Galeria Olho de Águia. "O processo de organização tem sido bastante gratificante, conduzido pelo Ivaldo, uma pessoa extraordinária. A cultura em Taguatinga deve muito a ele. Também com apoio de outros amigos, organizar essa mostra tem sido emocionante. Na abertura, teremos festa com DJ Netão e DJ Alzônio. A exposição terá alguns QR codes, por meio dos quais o espectador poderá acessar as histórias por trás de cada imagem", comenta Ailton.
A jornada até a Mongólia, país sem costa marítima localizado entre a Rússia e a China, envolveu grandes desafios, revelados em tom de drama e humor pelo historiador. Suportar o desgaste físico e as duras condições ambientais exigiram resiliência, mas o esforço ofereceu recompensas. "Quando cheguei à Mongólia, viajava havia oito meses. Estava calejado, tinha 'engrossado a casca', como se diz popularmente. Mesmo assim, as dificuldades foram enormes. Não é um país fácil, tem pouca infraestrutura. Muitas vezes, você está off-road, sem estradas. É uma região de clima extremo, cheguei a pegar 10 graus negativos de temperatura, o que dificultava muito a jornada. Imagine viajar a cavalo, cheio de contraturas musculares, com as nádegas cortadas por causa da pressão por estar sobre o cavalo durante longas horas, e ainda enfrentar esse clima. Um nível muito alto de dificuldade. Mas costumo dizer que o encantamento adquirido é proporcional ao desafio enfrentado", conta Ailton.
"Ocorreram também dificuldades de comunicação, não tão graves, mas estavam presentes. O povo das renas, os Tsaatan, falam o idioma tuvan. A gente tinha um cavaleiro, que organizava e cuidava dos cavalos da expedição. Ele falava tuvan, escutava o povo das renas e traduzia para o mongol, para nossa guia, que traduzia para o inglês. Às vezes, isso deixava a comunicação um pouco truncada. Mas, das dificuldades, foi uma das menores", completa o historiador nascido em Taguatinga.

Alcançar o objetivo da viagem ofereceu uma reflexão especial ao professor, que aprendeu sobre elos entre diferentes espécies do planeta e a conexão simbiótica pela vida. "Depois de dias a cavalo pelas florestas da taiga, você se depara com pessoas que vivem inteiramente na natureza, em uma consciência cíclica. Vivem de caça, coleta, pastoreio. Contemplá-los nos olhos é arrebatador, transportou-me para outro tempo, outro estado de consciência. Foram dias muito potentes. Eles e as renas vivem juntos e sincronizados, é impressionante, seguem uma religião da floresta, onde as renas, no fim dos tempos, os conduzirão para os céus. Eu pude ver com clareza que a plenitude se encontra na simplicidade", descreve emocionado.

Mudanças climáticas e poluição
O futuro dos Tsaatan, contudo, é ameaçado pelo contexto das mudanças climáticas globais, que impõem rigores à região. Além disso, a mineração é uma atividade que tem gerado relevantes impactos. "Na capital, Ulã Bator, fiquei hospedado em uma pensão que recebe estrangeiros há 40 anos. A administradora, um senhora muito bem informada, chamada Bobby, falava das consequências, com perda da vida silvestre, incluindo os cavalos selvagens. A taiga dos Tsaatan é uma área muito sensível. Eles eram totalmente autossuficientes, com a colheita de nozes, tubérculos nativos, frutas, como a goji berry, a caça e a coleta. Mas isso mudou. Em 2012, o então presidente da Mongólia passou uma temporada acampado com eles para chamar a atenção da comunidade internacional para os efeitos do aquecimento global na região. A partir daquele ano, a população local passou a receber um auxílio do governo", conta o historiador.
As temperaturas extremas do país também provocam um triste recorde na Mongólia. De dezembro a janeiro, auge do inverno na região, Ulã Bator se transforma na capital mais poluída do mundo. "Eles não têm um sistema eficiente de calefação, então, muita lenha é queimada para suprir essa demanda por aquecimento", explica Ailton.

Crise de saúde incentivou viagens
A verve expedicionária do professor Ailton Fagundes surgiu por um triste acaso. Em 2007, ele realizava mestrado na Universidade de São Paulo (USP), onde pesquisava sobre tabus alimentares do século 16, quando foi surpreendido pela descoberta de uma doença cardíaca, que inviabilizou a continuação dos estudos — teve de se dedicar ao tratamento. Vendo o projeto acadêmico frustrado e com a saúde frágil, o professor se lançou em uma viagem em busca de ressignificar a vida. "A jornada durou 1.035 dias fora do Brasil. Passei um ano no México, outro na Índia e 10 meses entre Nepal, Vietnam, Tailândia, Laos e Camboja. A vida mudou e nunca mais fui a mesma pessoa, havia me transformado. Continuava professor, mas agora também viajante e explorador", conta Ailton.
Com uma rápida carreira de baterista durante a juventude, passando por algumas bandas de Brasília, o professor mantém o improviso rítmico como característica também do atual trabalho. Durante as viagens, o planejamento não segue um esquema rígido, sempre aberto a eventuais mudanças de rotas. "Nessa última viagem, de 2023, eu não iria para a Mongólia. A intenção inicial era Jordânia e Líbano. Mas começou a guerra na Faixa de Gaza e decidi não mais ir àquela região. Acabei indo para a Mongólia. Então, vai acontecendo. Tenho um método de viajar muito próprio, mas sair com tudo planejado não existe para mim. Eu posso saber de uma coisa ou outra que vou fazer, mas sem algo muito estabelecido. Faço planos, mas não me importo de rasgá-los no meio do caminho e mudar de ideia. Prefiro viajar de forma mais fluída, para que não fique engessado. Isso é importante", explica.

Conteúdos exclusivos para os alunos
Ao fim, todas as aventuras servem para enriquecer o ambiente de sala de aula. Os conteúdos produzidos durante as viagens — fotos e vídeos — são agregados aos planos de aulas, em benefício do método de ensino para os estudantes. "A oportunidade de visitar tantas culturas, tantos países, passar por lugares tão relevantes para a história da humanidade, é transformador para minhas aulas, por completo. É muito diferente falar do que você viu, experimentou, interagiu, do que comentar apenas a respeito do que você leu. Falar do que você viveu torna a narrativa igualmente viva. Tenho um acervo de mais de 120 mil fotos, com centenas de vídeos também, produzidos ao longo de todas essas viagens. Uso esse material nas aulas, que, além da informação — os assuntos da história —, estão sempre recheadas de relatos de viagens. Os alunos adoram, pois dá vida à aula", comenta Ailton, que não tem redes sociais, deixando o conteúdo produzido exclusivo para a seleta plateia que o acompanha. Atualmente, ele leciona no Curso Sinapse, na Asa Sul e em Taguatinga, e também no Projeto Enem de Verdade, preparatório para alunos da rede pública.
Pesquisador voraz, o historiador conta que a fome pelo saber é uma das principais motivações para as aventuras pelo planeta. Em todos os lugares por onde passa, Ailton adquire livros e os mantém em um espaço carinhosamente chamado de Biblioteca das Civilizações, que soma obras de mais de 30 países, com quase 3 mil exemplares. "Viajo estudando o país e o faço comprando livros sobre a história e a cultura locais. Isso trás um desafio a mais para a expedição, pois demanda uma logística especial, chegando a um ponto em que envio as publicações em caixas para o Brasil", explica. "Outra motivação é minha saúde, sobretudo a mental. Viajando por longos meses, consigo sair da massacrante rotina de trabalho, trânsito pesado, excesso de informação, entre outras questões. A viagem longa trás uma enorme renovação e fortalecimento", completa.

Diferença entre turista e viajante
A coleção de excursões realizadas pelo professor é invejável aos turistas mais animados, mas ainda restam fronteiras a serem desbravadas — sempre há. "Cruzar toda a Índia de ônibus, trem, moto, carroça, camelo e tuk-tuk, ao longo de um ano, foi, sem dúvida, outra viagem marcante. Atravessei a Amazônia de barco; fiz uma expedição de 10 dias na selva da Guatemala, o Petén, para ver 33 pirâmides maias não exploradas; tomei chá com mortos na Indonésia; comi apenas um prato de arroz por dia, durante duas semanas, ao longo do lockdown da pandemia, em Bali; participei de rituais xamânicos com os Huicholes do deserto mexicano e por aí vai... Uma vida de mil histórias", descreve. "Nova aventura, ainda não sei ao certo, mas o chamado da África tem crescido em meu coração", projeta.
Para quem, distraidamente, sugere que o professor curte vida de turista, ela aprofunda a questão e ressalta diferenças contundentes em relação às atividades que pratica. "O turista e o viajante são personagens diferentes. O turismo surgiu no século 19, cresceu muito no século 20 e se transformou em uma indústria de massa no século 21. O viajante é um arquétipo, atemporal, pertence a todas as épocas da história da humanidade. É algo humano, não histórico. Turismo tem a ver com descanso e consumo, enquanto a viagem se relaciona mais com autoconhecimento. O turista costuma ter muito dinheiro e pouco tempo, os viajantes têm todo o tempo do mundo. O turista não se mistura, o viajante se integra à cultura local", filosofa.

Serviço
Mongólia e o impressionante Povo das Renas
Quando: 16 a 30 de abril
Onde: Galeria Olho de Águia (CNF 3, Edifício Praiamar, em Taguatinga Norte)
Visitação: terça-feira a sábado, de 18h à meia-noite
Entrada franca