
Crítica // Meu nome é Maria ★★★
Curioso que venha da terra de ator Gérard Depardieu, francês atualmente sob holofotes dos tribunais e mídia pelo suposto envolvimento em crimes sexuais, a produção que estreia em Brasília e trata de abusos durante a criação do clássico O último tango em Paris (1972), no qual a atriz central (Maria Schneider) teria sido violentada frente a anseios, defendidos como artísticos, pelo diretor Bernardo Bertollucci (vivido por Giuseppe Maggio, na ficção Meu nome é Maria) e pelo astro Marlon Brando (Matt Dillon).
Jornalista, prima da atriz (morta em 2011), Vanessa Schneider forneceu, por meio de livro, parte da trama desenvolvida pelas roteiristas Laurette Polmanss e Jessica Palud (também diretora do novo longa). Filha do astro Daniel Gélin (na tela, feito por Yvan Attal) e de uma mãe violenta, Maria foi hostilizada, e jogada ao abandono da sorte na Itália que demonizou o trio de artistas (Brando morreu há mais de 20 anos, e, Bertollucci, em 2018). No filme em que Anamaria Vartolomei brilha como protagonista, a trama inclui a jovem estudante Noor (Celeste Brunnquell), uma alma apaixonada por Schneider. O filme acerta ao evitar o gráfico confronto entre a estrela e os renomados homens estabelecidos na indústria do cinema.
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Por se tratar de um retrato de época, baliza uma virtual submissão, mas que, dramaticamente, é resolvida em cena quando Schneider credita a inexistência de Bertollucci e apequena sua figura. O apelo exercido pelas drogas ao longo da vida dela — que concorreu, em 1979, ao prêmio César, por O sexo oculto (estrelado por Miou-Miou) — é retratado sem meio-termos. Como num efeito, despontam as consequências do abuso. Schneider, que brilhou ainda em Noites felinas (de Cyril Collard) traz o requinte da classe, ainda que debilitada, de exaltar as produtivas colaborações em Merry-go-round (com Jacques Rivette) e Profissão: Repórter (de Michelangelo Antonioni).
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