Teatro

Musical 'Chatô & os Diários Associados – 100 Anos de paixão' estreia no RJ

A peça celebra o centenário do grupo de comunicação do qual o Correio Braziliense e o Estado de Minas fazem parte

Como se trata de um musical que permeia boa parte da história brasileira do século 20, o cancioneiro de vários períodos é levado para a cena -  (crédito:   Patricia Lerra/Divulgação)
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Como se trata de um musical que permeia boa parte da história brasileira do século 20, o cancioneiro de vários períodos é levado para a cena - (crédito: Patricia Lerra/Divulgação)

Na França do pós-guerra, não houve nada tão extraordinário, opulento e exótico quanto a festa do castelo de Coberville. Em 3 de agosto de 1952, o costureiro Jacques Fath, maior rival de Christian Dior, abriu sua propriedade nos arredores de Paris para um regabofe que reuniu 3 mil pessoas: europeus, americanos e brasileiros, esses em grande número, por sinal. Um dos anfitriões da noite (que terminou com dia claro) foi Assis Chateaubriand (1892-1968).

A festança é um dos cenários de Chatô & os Diários Associados — 100 Anos de paixão, musical que celebra o centenário do grupo de comunicação do qual o Correio Braziliense e o Estado de Minas fazem parte. Com estreia nesta sexta-feira (28/3), no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, o espetáculo foi escrito por Fernando Morais, autor da biografia Chatô — O rei do Brasil (1994), e Eduardo Bakr. A direção é de Tadeu Aguiar.

Com temporadas em outras capitais ao longo de 2025, o musical tem colaboração do presidente do condomínio acionário dos Diários Associados, Josemar Gimenez de Resende. Produzido pela Voglia Produções Artísticas, é apresentado pelo Ministério da Cultura e Petrobras como parte do Programa Petrobras Cultural.  

Em dois atos, o espetáculo tem início em 2024, quando Fabiano (Claudio Lins), um jornalista desempregado, depara-se com a estátua de Chateaubriand na Praça da Independência, no Recife. A imagem de pedra ganha vida (o magnata das comunicações é interpretado por Stepan Nercessian), reclamando dos constantes roubos de sua caneta. Inicia uma conversa com o repórter e pede a ele que escreva sua história. Desta maneira, Fabiano vai viajar no tempo, acompanhando as passagens mais relevantes da trajetória do "rei do Brasil".

Esse retorno ao passado começa em 1924, quando Chatô, aos 32 anos, compra o diário carioca O jornal, pedra fundamental dos Diários Associados. De lá, a história migra para 1952, justamente na tal festa (Orson Welles e Ginger Rogers se esbaldaram no evento, diga-se) promovida por Chateaubriand em parceria com Fath para divulgar, na Europa, o algodão brasileiro.

RÁDIO E TV TUPI

Outros momentos relevantes da história são a inauguração da Rádio Tupi, em 1935, bem como a cassação da concessão da TV Tupi, primeira emissora brasileira de televisão, pelo governo militar, em 1980. "Chatô criou o maior conglomerado de comunicação do país. O musical não é para falar bem dele, mas celebrar o legado. Ele fazia tudo com muita paixão. Os métodos são meio esquisitos", comenta Tadeu Aguiar.

Fernando Morais e Eduardo Bakr tiveram muitas conversas até definir o recorte da montagem. "Se entrássemos na questão familiar, seria uma peça; na financeira, outra. Decidimos fazer o recorte na comunicação", diz Bakr. A presença do fantástico — uma estátua que ganha vida e empreende uma viagem no tempo — permitiu que uma trajetória tão grande e diversa pudesse ser apresentada em pouco mais de duas horas.

Como se trata de um musical que permeia boa parte da história brasileira do século 20, o cancioneiro de vários períodos é levado para a cena. Além do quarteto principal — os dois atores supracitados contracenam com as atrizes Sylvia Massari, veterana do teatro musical, e Patricia França — o espetáculo tem um elenco coadjuvante de 14 intérpretes, que dão vida a personalidades como Carmen Miranda, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues, bem como uma banda de nove músicos. A coreografia é de Carlinhos de Jesus, a direção musical de Thalyson Rodrigues com supervisão de Guto Graça Mello.

CRIAÇÃO DIÁRIA

"Quando você dirige um espetáculo work in progress, em que cria as cenas diariamente (durante os ensaios) em que o autor está presente, o trabalho é mais excitante. Você está construindo um espetáculo com uma equipe, não é uma réplica que vem pronta (como acontece com musicais internacionais quando chegam ao Brasil). É muito mais instigante para um diretor", diz Aguiar.

O diretor também assina a versão nacional de Uma babá quase perfeita, em cartaz em São Paulo, e prepara-se para voltar com Beetlejuice aos palcos cariocas. "Um musical brasileiro é geralmente mais saboroso, pois traz nossa latinidade", comenta Aguiar, que está trabalhando em Chatô & os Diários Associados desde outubro de 2024.

  • Stepan Nercessian procurou reviver o espírito de Chatô
    Stepan Nercessian procurou reviver o espírito de Chatô Foto: Fotos: André Wanderley/Divulgação
  • Patricia França vive a funcionária Juliana: 
espaço para as mulheres
    Patricia França vive a funcionária Juliana: espaço para as mulheres Foto: ANDRE WANDERLEY
  • Stepan Nercessian procurou reviver o espírito de Chatô.
    Stepan Nercessian procurou reviver o espírito de Chatô. Foto: André Wanderley/Divulgação
Mariana Peixoto
MP
postado em 25/03/2025 06:01