
Beleza fatal é um fenômeno mundial no streaming, e muito se deve à presença de um elenco estelar encabeçado por nomes como Camila Pitanga, Camila Queiroz, Giovanna Antonelli, Caio Blat, Marcelo Serrado e Herson Capri, entre outros. Mas a produção, assinada por Raphael Montes no roteiro e Maria de Médicis na direção artística, apresentou ao público artistas até então anônimos, como é o caso de Santiago Acosta Cis, o argentino que dá vida ao dançarino Javier, responsável por ajudar a sofrida Gisela (Julia Stockler) a se desvencilhar do casamento abusivo com o vilão Rog (Marcelo Serrado). O Correio bateu um papo com o hermano de 32 anos que se encantou pelo Brasil.
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Entrevista | Santiago Acosta Cis
Como foi que se deu a sua vinda para o Brasil?
A história da minha vinda ao Brasil é um pouco aleatória, não falo muito sobre, mas a verdade é que eu estava vendendo água em um festival de cinema que estava acontecendo na minha cidade, na Argentina, e acabei conhecendo pessoas de diferentes partes do mundo. Entre essas pessoas estava o brasileiro Felipe Mondoni apresentando um curta-metragem. Começamos a conversar sobre a vida e ficamos amigos naquela mesma semana. Nessas conversas, o Felipe descobriu que, além de vender água, eu era ator e, no final do festival, ele me convidou para fazermos um filme aqui no Brasil. Seria um projeto independente, autoral, eu só teria que pagar a passagem e ficaria na casa dele junto com mais alguns gringos. No começo, duvidei do convite, mas acabei embarcando na ideia. Eu vim, conheci São Paulo, me apaixonei pela cultura brasileira, e decidi ficar. Minha passagem de volta estava marcada para 3 de abril de 2019, o que não aconteceu.
E como é a vida de um artista argentino por aqui? As portas estão abertas?
Não posso falar pelos artistas argentinos em geral, acredito que meu caminho seja diferente dos outros argentinos que moram aqui (e tem muitos). Mas uma coisa que eu vi aqui, e por isso decidi ficar, é que tem muitas possibilidades para explorar, e nem sempre essas portas estão abertas, a gente tem que ir batendo nelas e fazendo se abrir. Na Argentina, não é diferente, só que, no meu caso, quando eu cheguei em São Paulo, encontrei muitas portas para bater, aqui existem muitas possibilidades. O fomento à cultura no Brasil é gigantesco, apesar das dificuldades, do panorama político às vezes desfavoráveis, e uma constante luta da classe artística, o Brasil tem muitas possibilidades de acesso à cultura, leis de fomento, programas de educação artística gratuitos, oficinas culturais, e muito mais. Isso eu não tinha na minha cidade, e quando tinha era muito reduzido. Eu mesmo participei de alguns cursos de atuação oferecidos pelo governo.
Como surgiu o convite para fazer Beleza fatal?
Eu fui chamado antes para fazer o teste. A Vanessa Veiga, que assina a direção de elenco da novela, entrou em contato comigo me convidando para participar dessa seleção. Nada diferente dos outros trabalhos e produções. Foram algumas etapas até ser selecionado. Lembro do dia que ela me ligou para me contar que eu daria vida ao Javier, antes ela fez uma brincadeira comigo. Agradeceu meu esforço, por ter participado etc. Do jeito que ela falava, parecia que a resposta era negativa, mas, no final, ela falou: "é isso, você vai fazer o Javier". Eu nem sei explicar o que senti naquele momento; congelei ao mesmo tempo que explodia de felicidade por dentro.

Já sentiu o calor do público após a estreia da novela?
Beleza fatal é, sim, o maior trabalho que fiz no Brasil, mas não o primeiro. Já tinha feito séries e curta-metragens aqui. Mas com a repercussão que Beleza fatal está gerando, eu nunca tinha lidado, estar dentro do projeto e fazer parte dele é uma honra gigantesca. As pessoas chegam para falar comigo nas redes sociais, mandam mensagens muito carinhosas falando sobre o Javier e a Gisela, sobre a importância dessa parte da história. Até mesmo na rua, no mercado e em restaurantes, as pessoas vêm falar sobre a novela. Para mim, é uma coisa totalmente nova e fico feliz em ver a recepção tão positiva do público. E, acima de tudo, fico feliz de perceber como a história da Gisela e do relacionamento abusivo com Rog tem sido importante para muitas mulheres que passaram ou passam por situações parecidas. Que pode se amar de forma saudável e que existem pessoas como o Javier para se relacionar sem se machucar.
E como é a repercussão da produção no seu país?
Na Argentina, a novela também atingiu o TOP 1, como em outros 14 países. Pessoas da minha cidade também buscaram meu Instagram e mandaram mensagens carinhosas, e com muito orgulho. Minha família e amigos estão todos viciados, eles ficam fazendo campanha boca a boca, chamando mais pessoas para assistir. Além disso, alguns meios de comunicação de lá me procuraram, me entrevistaram e também fizeram matérias. Realmente, acho que Beleza fatal deu um "boom" a nível internacional, e estou torcendo para que mais produções brasileiras continuem se espalhando pelo mundo e fazendo sucesso. Aqui se produz muita coisa boa.
Sente alguma diferença entre fazer arte na Argentina e aqui?
É difícil para mim falar da arte na Argentina como um todo, porque eu sou de uma cidade pequena que não representa o tamanho cultural da Argentina, e nem o circuito artístico que existe lá. Mas posso dizer que, no pessoal, fez muita diferença. Eu trabalho com arte desde os 15 anos, não só como ator, sou músico e desenhista também. Lutei muito junto com os coletivos de artistas para abrir espaços onde se fomente a arte, lugares para poder tocar, fazer exposições, fazer teatro. E era uma luta constante. Foram dez anos sempre defendendo a cultura. Quando cheguei em São Paulo e logo depois consegui meu primeiro trabalho num teatro, ganhei meu primeiro cachê como ator e consegui pagar as contas com esse dinheiro, fiquei realmente surpreso e ao mesmo tempo encantado. Não vou dizer que é fácil a vida do artista, nem aqui nem na Argentina, mas aqui é possível viver disso.
Você já conhece Brasília?
Ainda não tive o prazer de conhecer Brasília e não por falta de convite, mas a agenda em São Paulo é sempre de muita correria, tentando conciliar o trabalho. Dizem que a cidade é um museu a céu aberto, já vi muitas fotos e, com certeza, em algum momento conhecerei.