
Crítica // Milton Bituca Nascimento ★★★★
Um legado irretocável atravessa a tela, com o documentário de Flavia Moraes chamado Milton Bituca Nascimento. Entidades da música internacional da estatura de Quincy Jones, Paul Simon, Pat Metheny e Herbie Hancock se mesclam a gênios nacionais do porte de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque para desvendar o indecifrável: qual a magnitude do talento de Milton e como ela reverbera (e seguirá) há décadas com profundidade incontornável.
Entre descaminhos do jazz, da MPB e da bossa nova, a trajetória de Bituca é recontada com o contorno de uma despedida emocionante em turnê de fechamento de carreira nos palcos. Países e reflexões abrem um portal de fortuna crítica de síntese tão diversa que acopla, até mesmo, a admiração (e o grafite) da dupla Osgemeos. A grandeza de Bituca resplandece em conceitos formulados por Spike Lee, Ronaldo Bastos e Carminho.
A lacuna no filme de Ana Rieper (Nada será como antes — A música do Clube da Esquina), que não contou com Milton Nascimento, é finalmente suprida, uma vez que, em cena, comparecem Beto Guedes, Lô Borges e Wagner Tiso, entre outros. Em camadas emotivas (e depoimentos de Milton Nascimento), o texto (narrado por Fernanda Montenegro) traz momentos inspirados na escrita de Marcelo Férla e Flavia Moraes (presente ainda na edição compartilhada Laura Brum).
As interferências lúdicas de Criolo e de Maria Gadú (emocionados, tal qual Simone) intercalam fragilidades e vigor na integridade de uma obra e de um ser humano, sempre vibrante, em bom tom. Há dimensão filosófica do cantor, sob o olhar de Djamila Ribeiro, e pouco importa a limitação física do mestre, conferida na produção com quase dois anos de duração. Um entendimento pleno, (mas nunca findo) de uma obra universal com discípulos ferrenhos, como Esperanza Spalding, dona de muitas observações pertinentes.
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