Cinema

Novo filme da Branca de Neve chega aos cinemas envolto por polêmicas

Remake de Branca de Neve, baseado no clássico dos Irmãos Grimm, chega aos cinemas envolvido em polêmicas

 Branca de neve 2025  -  (crédito:   Walt Disney)
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Branca de neve 2025 - (crédito: Walt Disney)

E foi assim — de um êxito com real emblema de ouro da empresa Disney, que reluzia feito o mel no fundo do pote carregado pelo Ursinho Pooh, até a malfadada pecha de um pote com revolto enxame de abelhas — que o novo filme de live—acction da empresa de Walt Disney parece ter desandado. Para muito além dos US$ 200 milhões de investimento no filme, o custo real chegará aos cinemas para ser testado. A julgar por Waiting on a wish — uma das músicas de Benj Pasek e Justin Paul (integrantes da equipe do premiado La La Land) incorporadas por Branca de Neve — há chance de muita frieza na receptividade pelo público. O "esperando desejo" a ser realizado, presente numa das letras de composição atrelada ao filme, traz o indício da vibe positiva, num possível resposta do público à fita de Marc Webb. O roteiro do longa vem assinado por Erin Cressida Wilson (de Homens, mulheres e filhos).

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Um ouriço, uma lebre, e um esquilo abrem o livro de história de princesa (atualizada) a ser recontado para a telona, tendo por matriz os contos dos irmãos Grimm. Branca de Neve é daquelas personagens que a todos reserva o amor. Inicialmente, ainda criança, é interpretada por Emilia Faucher, extasiada com a possibilidade de ver o reino do pai, o Bom Rei, acessível para "gente livre e honesta". A sua ingenuidade pode vir a ser sabotada pela ação da futura madrasta acostumada a ordenar idas ao calabouço do palácio e supervalorizar as características da própria beleza.

Pensamentos ligados à subsistência do povo tocam Branca de Neve, mas sem encontrar eco na sua linhagem privilegiada dentro do castelo. A suavidade da protagonista é severo acinte para a Rainha Má, cravejada de inveja e crueldade. Torta será ainda a figura do príncipe Jonathan, dono de ações condenáveis como roubo e incapaz de valorizar a confiança em terceiros. Grosso modo, em vez de apenas pensar em soluções, Branca de Neve é estimulada a agir.

Terreno inseguro

A exemplo da lesão na acolhida do musical recente Emilia Pérez, os bastidores de Branca de Neve desfavorecem ânimos. Enquanto na 11ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o criador da animação Walt Diney foi celebrado com um Oscar honorário pelo Branca de Neve e os Sete Anões (1937); em 2025, pedras prometem avançar sobre um telhado de vidro. Integrados à natureza, tal qual árvores, outros personagens da ação: Dunga, Feliz, Atchim, Dengoso, Mestre, Zangado e Soneca computam 274 anos de vida nesta adaptação para o cinema. Por momentos, a atual Branca de Neve renega um beijo (do príncipe), foge a cavalo e delega atribuições aos novos amigos que, indiretamente, a distância, vão ajudá-la a reestruturar o reino a ela destinado.

Para os mais escolados, a cartilha do filme parecerá inofensiva: o imaginário processou, na leitura dos Grimm, imagens definitivas (e que estão no filme), como o vestido esvoaçante, dançando no ar da princesa, os assustadores galhos de árvores animados na floresta macabra e o refestelar de bichos selvagens pela mata. Às imagens das minas de diamante e ao estilo peculiar de assobios dos anões (que embalam músicas) — muito está na tela, com o acréscimo da camada de incompreensão relegada a alguns dos sete anões.

Depois das severas críticas a escolha de Halley Bailey como a Ariel, protagonista de A Pequena Sereia, há dois anos; agora muitos desautorizaram, sob visão racista, a americana descendente de latinos Rachel Zegler de estrelar a fita. Vale lembrar que, vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz, pelo musical West Side Story, há três anos, a Maria (Zegler) daquele filme disputou aquele papel com 30 mil candidatas na composição do filme assinado por Steven Spielberg.

Nanismo: uma questão? 

O rebuliço de debates em torno do emprego (ou desemprego) de atores com nanismo foi outro tema de bastidor de Branca de Neve. Em opção decisiva, o estúdio optou por impor o conceito de "criaturas mágicas", anulando o termo anões, mas tudo parece ter sido mera formalidade para calar o cordão dos descontentes.

A matemática positiva de 126 vezes, em renda, o valor do investimento de US$ 1,5 milhão (na ocasião do filme de 1937), definitivamente, não se afirmará com o produto atual. Embebido nas fábulas do século 19 redigidas pelos Irmãos Grimm, o filme anterior à Segunda Guerra arrebatou a união do talento de oito roteiristas para o clássico que, pelo respeitado American Film Institute, seria dado como o maior filme de animação norte-americana.

Nos novos moldes, o filme atual carrega um embate muito especulado pela mídia: o enfrentamento das posturas das ativistas Rachel Zegler (que, em 2024, saudou "Palestina, livre!" e engalopou a observação da eterna distância da paz para Trump e seus eleitores) e ainda de Gal Gador (a intérprete da vilanesca Rainha), israelense de berço. Nem adiantou o pedido de desculpas de Zegler (que se disse "tomada pela emoção", no momento de seus posicionamentos); a felicidade parece algo distante para a atual princesa das telonas. Ah! Sem querer estragar surpresas: repare na presença do ator George Appleby, na pele de Quigg.

  •  Branca de neve 2025
    Branca de neve 2025 Foto: Walt Disney
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    Branca de neve 2025 Foto: Walt Disney
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    Branca de neve 2025 Foto: Fotos: Walt Disney
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    Branca de Neve 2025 Foto: Walt Disney
Ricardo Daehn
postado em 20/03/2025 06:00