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Assassin's Creed Shadows infelizmente é mais do mesmo, com temática diferente

No novo capítulo da irmandade dos assassinos, o jogo esquece de ser único e marcante ao seu próprio modo e cai em erros habituais da saga

Yasuke e Naoe lutam juntos contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão.  -  (crédito: Divulgação/Ubisoft)
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Yasuke e Naoe lutam juntos contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão. - (crédito: Divulgação/Ubisoft)

Depois de vários adiamentos, “para polimento de mecânicas e gráficos”, Assassin’s Creed Shadows vai finalmente chegar trazendo a amada ficção histórica da franquia, agora com dois personagens, a shinobi, Naoe e o samurai preto, Yasuke. Ambientado no Japão feudal durante o período Sengoku, em 1579, onde o país estava em constante conflito e com uma política incerta, o senhor de terras, Oda Nobunaga, toma vários lugares a força para ganhar poder. 

Assassinos no Japão 

Naoe sofre uma perda muito grande no ínicio no jogo, o que a motiva em sua jornada de vingança.
Naoe sofre uma perda muito grande no ínicio no jogo, o que a motiva em sua jornada de vingança. (foto: Divulgação/Ubisoft)

O jogo abre com a chegada de uma dupla de portugueses trazendo recursos para o Daimiô japonês, que nota o segurança dos homens, um homem africano alto e de cabelo trançado, impressionado pelo tamanho e cor do homem, Oda Nobunaga acredita que a força de Yasuke seria de grande utilidade para seu exército, então ele o acolhe e o instruí no código dos samurais. 

Temos uma passagem de tempo e vemos o exército de Oda queimando a província de Iga e matando seus guerreiros, o jogo então troca a perspectiva e vemos que a vila era lar de Naoe, que foge desesperada com seu pai, que a entrega a lâmina oculta da ordem dos assassinos e pede para ela guardar com a vida um item secreto. Após encontrá-lo, Naoe é atacada por vários samurais pertencentes a uma ordem secreta que parece agir juntamente com Oda Nobunaga. Indefesa, a jovem acha que a morte é certa, seu pai então surge e luta contra os inimigos e acaba tendo sua vida ceifada no lugar da filha. Depois de ser acolhida por um ancião que cuidou de seus ferimentos, Naoe treina intensivamente determinada a caçar cada um dos membros da ordem secreta e recuperar o item que foi lhe roubado.

Formulaico demais 

Os visuais do jogo são muito imersivos, com a ambientação sendo uma das mais bonitas da saga.
Os visuais do jogo são muito imersivos, com a ambientação sendo uma das mais bonitas da saga. (foto: Divulgação/Ubisoft)

Assim como os outros jogos da era RPG, novamente a Ubisoft aposta na fórmula de uma “sociedade secreta” que ninguém sabia e que estava por trás de vários problemas naquela época, nessa versão os Onyro. A maior falha desse método de contar a história, não é nem que ele já cansou nessa franquia, mas sim, de que permanece a exata mesma coisa. Com a mesma estrutura nos três jogos que já tive o prazer de jogar, tanto em Odyssey, quanto em Valhalla e agora em Shadows, eles são iguais, sem tirar nem pôr. Existe um membro mascarado que você deve investigar fazendo missões secundárias para liberar sua identidade e finalmente conseguir realizar a missão em que mata o personagem, então repete esse processo de novo e de novo até o fim da história do jogo. 

Entendo que a premissa de Assassin’s Creed na totalidade é falar dessas sociedades secretas que estavam em conflito durante eras e “ninguém nunca notou”, mas esse método que a nova era adotou já cansou, a empresa tinha que ter se esforçado mais para entregar novidades reais em um de seus títulos mais esperados, mas no fim, acaba sendo o mesmo sorvete só que com uma casquinha diferente.

Até em outros títulos dessa franquia vi mais novidades, no Odyssey trouxe as batalhas de exército e no Valhalla, as expedições para pilhar e saquear, enquanto Shadows não parece ter um apelo único a não ser sua temática principal que pode atrair fãs nipônicos de samurais, mas não vai entregar o verdadeiro potencial que outros títulos melhores fazem.

Combate, movimentação e elementos de RPG

A dupla tem diferente estilos de luta, um mais pesado e que causa mais dano e outro  mais leve e mais rápido.
A dupla tem diferente estilos de luta, um mais pesado e que causa mais dano e outro mais leve e mais rápido. (foto: Divulgação/Ubisoft)

Utilizando a mesma mecânica dos últimos títulos, o jogo permite que você possua duas armas, podendo trocar entre elas a qualquer momento da luta. Combate esse que tem dois golpes, um botão para o fraco e outro para forte, caso você segure qualquer um dos botões, o personagem desfere um golpe carregado, que tira mais dano. Além disso, o sistema de defesa do jogo é baseado em acertar o tempo do inimigo, criando uma abertura para um ataque. As finalizações permanecem no jogo, e são extremamente bem animadas, como a movimentação do jogo como um todo, os movimentos de parkour são fluidos e rápidos, e com a adição do gancho no jogo, a escalada de alguns lugares fica mais fácil com a mecânica.

Shadows ainda traz os elementos de RPG da nova era da saga, como as habilidades e os níveis para o personagem principal e para os inimigos, além de uma extensa árvore de melhorias, focados tanto no combate corpo-a-corpo, quanto na furtividade. Armaduras e armas também possui níveis e podem ser equipadas na tela de pause do jogo, elas modificam os status do personagem dando mais ou menos vida, ou dano, ou melhorando alguma habilidade O cavalo também está presente no jogo, para auxiliar nas travessias de trechos mais longos no mapa, Shadows conta com viagem rápida entre cidades, mas assim como os demais títulos da saga, você deve sincronizar nos Pontos de Águia, assim ela fica disponível, ou você pode pagar para um grupo filiado ao personagem por um ponto de viagem rápida.

Precisava de mais tempo

Agindo nas sombras, a shinobi rastreia os inimigos e os Onyro.
Agindo nas sombras, a shinobi rastreia os inimigos e os Onyro. (foto: Divulgação/Ubisoft)

Outro ponto que me distraiu muito enquanto jogava, são as cenas de Shadows, que fora a dupla principal, nenhum dos outros personagens durante as cinemáticas tem uma animação boa. É inexpressivo, muito parecido com jogos no auge do PlayStation 3, chega a incomodar, principalmente no estado onde a indústria se encontra com as tecnologias de captura de performance. O esforço pareceu direcionado mais para a interação entre personagens presentes em cena, do que os diálogos em si. Em uma das declarações que justificava o adiamento do jogo falava sobre melhorar as animações do jogo, e eu acredito que mesmo com esse tempo a mais o estúdio não conseguiu atingir o potencial pretendido com as cenas em Shadows

A dublagem em português do Brasil, como sempre não pecou, é muito bem executada, com vozes bem conhecidas do meio dando vida aos personagens, destaque para Wellington Lima como Yasuke, veterano agora na indústria dos games e Erica Kou como Naoe, ambos entregam muito bem as intenções de cada um.

Cadê o Yasuke?

O samurai preto trouxe muitas polêmicas para a Ubisoft que não lidou muito bem com o tema, e acabou demonstrando isso (Espero que ndiretamente) no produto final.
O samurai preto trouxe muitas polêmicas para a Ubisoft que não lidou muito bem com o tema, e acabou demonstrando isso (Espero que ndiretamente) no produto final. (foto: Divulgação/Ubisoft)

O samurai preto é um personagem histórico e não há o que discutir sobre isso. Ou pelo menos era o que a Ubisoft presumia, fugindo até da bolha dos games, Yasuke virou uma pauta de debate séria entre revisionistas históricos, com fãs revoltados com a possibilidade do guerreiro ser o protagonista de um jogo ambientado no Japão. Alguns trazendo “motivos válidos” e outros sendo abertamente racistas sobre o tema, o assunto se tornou extremamente polêmico e gerou até um pronunciamento da empresa, que invés de optar por levantar uma bandeira e manter o personagem como um dos centros da história, deu uma declaração chapa branca e pedindo desculpas para o público japonês da Ubisoft.

Na minha ignorância, eu quero acreditar que esse fato da polêmica não seja o motivo por trás da falta do personagem durante todo o primeiro ato do jogo, que reforço não é curto, tem jogos que podem ser finalizados no tempo que o primeiro ato de Assassin’s Creed Shadows se desenrola. O que cria a pergunta, cadê o Yasuke? Personagem que estava em todo material promocional do jogo, fotos e vídeos, que foi descrito como “co-protagonista”, por que essa demora para trazer ele presencialmente para o jogo?

Não me entenda mal, Naoe é muito inteligente e serve a história como uma excelente representante da irmandade dos assassinos, mas em um jogo com dois protagonistas, por que demorar tanto para introduzir o segundo?

Vamos usar outro jogo como exemplo, da própria saga: Assassin’s Creed Syndicate, da era PlayStation 4 e Xbox One, trazia os irmãos Frye como protagonistas, Jacob e Evie, com a mesmo diferencial de mecânica que Ubisoft trouxe para Shadows, um personagem focado em combate e outro em furtividade. Assim que você chega ao principal cenário da história – Londres, no caso —  depois de um prólogo de 15 minutos, o jogador pode selecionar qualquer um dos irmãos Frye, então por que o mesmo não foi repetido aqui? Por que colocar o personagem depois de mais de 12 horas de jogo, Ubisoft? É difícil não associar esse sumiço do personagem a polêmica onde a empresa francesa se meteu e que resolveu não assumir por completo. 

Considerações Finais

 

A Ubisoft tem que pensar muito sobre o futuro da saga, Assassin's Creed é uma das franquias mais clássicas dos games, teve suas mecânicas renovadas na era RPG, mas uma outra abordagem se faz necessária depois de anos no mesmo estilo.
A Ubisoft tem que pensar muito sobre o futuro da saga, Assassin's Creed é uma das franquias mais clássicas dos games, teve suas mecânicas renovadas na era RPG, mas uma outra abordagem se faz necessária depois de anos no mesmo estilo. (foto: Divulgação/Ubisoft)

Desde o seu anúncio com os três jogos misteriosos, Jade e Hexe  —  inclusive faz tempo que não se tem novidade — Assassin's Creed Shadows criou uma expectativa forte na comunidade fã da saga, mas apesar de vários adiamentos o jogo permanece imperfeito, com vários problemas além da sua polêmica enorme com Yasuke. Ele parece mais se aproveitar da temática e ambientação para manter a fórmula dos demais jogos, do que realmente ser algo diferente e como dito anteriormente, existem outros títulos que trazem propostas melhores no gênero. 

A saga é famosa por usar pessoas e fatos históricos à favor da narrativa da trama dos assassinos, personagens como Ezio Auditore e Ratonhnhaké:ton ou Connor, não só não existem, como ainda interagem com figuras históricas como Leonardo da Vinci e George Washington, jamais vi ninguém levantando argumentos e dissertações para falar como esses personagens têm representações feitas erradas em X ou em Y, mas agora que a saga adota uma figura histórica negra, não como um personagem esporádico, mas como um protagonista, me pareceu que o revisionismo histórico só foi usado como plano de fundo para críticas baseadas em preconceito. E a forma como a empresa lidou com essa problemática piorou as coisas para o jogo, deixando ecos claros de quem xingou em voz alta nas redes sociais.

Para o futuro da saga, eu gostaria de ver outros lugares sendo explorados, outros países, outras histórias —  Obviamente da forma mais respeitosa possível, culturalmente falando — quem sabe com até alguma coisa voltado para a história nacional, a saga nunca teve uma passagem histórica pelo Brasil, quem sabe um Brasil Colônia com Zumbi dos Palmares como protagonista ou uma Inconfidência Mineira com Tiradentes, aí, sim, vamos ver o verdadeiro debate e argumentação das pessoas contra fatos consolidados da história do próprio país.

Assassin’s Creed Shadows chega em 20 de março para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC.

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*Está análise foi feita com uma cópia enviada pela Ubisoft Brasil para PlayStation 5.

 

  • Yasuke e Naoe lutam juntos contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão.
    Yasuke e Naoe lutam juntos contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Yasuke e Naoe lutam juntam contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão.
    Yasuke e Naoe lutam juntam contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Os visuais do jogo são muito imersivos, com a ambientação sendo uma das mais bonitas da saga.
    Os visuais do jogo são muito imersivos, com a ambientação sendo uma das mais bonitas da saga. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Yasuke e Naoe lutam juntam contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão.
    Yasuke e Naoe lutam juntam contra uma sociedade secreta que quer tomar o Japão. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Naoe sofre uma perda muito grande no ínicio no jogo, o que a motiva em sua jornada de vingança.
    Naoe sofre uma perda muito grande no ínicio no jogo, o que a motiva em sua jornada de vingança. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Os visuais do jogo são muito imersivos, com a ambientação sendo uma das mais bonitas da saga.
    Os visuais do jogo são muito imersivos, com a ambientação sendo uma das mais bonitas da saga. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Agindo nas sombras, a shinobi rastreia os inimigos e os Onyro.
    Agindo nas sombras, a shinobi rastreia os inimigos e os Onyro. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • O samurai preto trouxe muitas polêmicas para a Ubisoft que não lidou muito bem com o tema, e acabou demonstrando isso (Espero que ndiretamente) no produto final.
    O samurai preto trouxe muitas polêmicas para a Ubisoft que não lidou muito bem com o tema, e acabou demonstrando isso (Espero que ndiretamente) no produto final. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Naoe sofre uma perda muito grande no ínicio no jogo, o que a motiva em sua jornada de vingança.
    Naoe sofre uma perda muito grande no ínicio no jogo, o que a motiva em sua jornada de vingança. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • A dupla tem diferente estilos de luta, um mais pesado e que causa mais dano e outro  mais leve e mais rápido.
    A dupla tem diferente estilos de luta, um mais pesado e que causa mais dano e outro mais leve e mais rápido. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • Agindo nas sombras, a shinobi rastreia os inimigos e os Onyro.
    Agindo nas sombras, a shinobi rastreia os inimigos e os Onyro. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • O samurai preto trouxe muitas polêmicas para a Ubisoft que não lidou muito bem com o tema, e acabou demonstrando isso (Espero que ndiretamente) no produto final.
    O samurai preto trouxe muitas polêmicas para a Ubisoft que não lidou muito bem com o tema, e acabou demonstrando isso (Espero que ndiretamente) no produto final. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • A Ubisoft tem que pensar muito sobre o futuro da saga, Assassin's Creed é uma das franquias mais clássicas dos games, teve suas mecânicas renovadas na era RPG, mas uma outra abordagem se faz necessária depois de anos no mesmo estilo.
    A Ubisoft tem que pensar muito sobre o futuro da saga, Assassin's Creed é uma das franquias mais clássicas dos games, teve suas mecânicas renovadas na era RPG, mas uma outra abordagem se faz necessária depois de anos no mesmo estilo. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • A dupla tem diferente estilos de luta, um mais pesado e que causa mais dano e outro  mais leve e mais rápido.
    A dupla tem diferente estilos de luta, um mais pesado e que causa mais dano e outro mais leve e mais rápido. Foto: Divulgação/Ubisoft
  • A Ubisoft tem que pensar muito sobre o futuro da saga, Assassin's Creed é uma das franquias mais clássicas dos games, teve suas mecânicas renovadas na era RPG, mas uma outra abordagem se faz necessária depois de anos no mesmo estilo.
    A Ubisoft tem que pensar muito sobre o futuro da saga, Assassin's Creed é uma das franquias mais clássicas dos games, teve suas mecânicas renovadas na era RPG, mas uma outra abordagem se faz necessária depois de anos no mesmo estilo. Foto: Divulgação/Ubisoft
Khalil Santos
postado em 18/03/2025 14:09