
Integrante de uma das bandas mais importantes do rock brasileiro, Sergio Britto é autor de composições cantadas por milhões de pessoas ao longo dos anos. Porém, a carreira dele vai além da banda que o fez e mescla ritmos como a MPB, a bossa nova e até o jazz. Após anos intensos com a banda que o mostrou para o mundo, Britto resolveu concentrar as energias novamente em trabalho solo e apresenta The best of, compilado do melhor da própria carreira lançado nas plataformas digitais e em vinil.
O artista fez um minucioso trabalho para decidir o que era esse The best of. Traduzido, literalmente, é "o melhor de". Ele passou pelos discos solo e trouxe os maiores sucessos, mas também pinçou faixas pelas quais tem carinho. Sem contar que deixou o espaço para as colaborações de alto calibre durante a carreira com nomes como Rita Lee, Alaíde Costa e Roberto Menescal.
A ideia não era apenas juntar boas músicas no mesmo lugar, mas também transmitir o sentimento que ele sempre buscou na carreira solo. "Eu quis fazer desse best of também um apanhado do meu caminho, essa procura estética, atrás de uma linguagem própria, uma musicalidade, uma maneira de arranjar, uma maneira de compor e de algo que me diferenciasse dos Titãs", explica em entrevista ao Correio.
A empreitada solo de Britto sempre foi essa. "Gosto muito de tocar e faz tempo que eu tenho uma relação com a MPB, com o Bossa Nova e até com um pouquinho de jazz, mesmo achando que não tenho nenhuma musicalidade para praticar esse tipo de música, para valer. Mas do meu jeito, acho que posso fazer", avalia. "Eu sempre achei que isso talvez fosse um fator que me desse alguma originalidade. Um artista vindo do pop, usando esses elementos diferentes", acrescenta.
Essa opção estética não foi fácil e gerou questionamentos do próprio cantor sobre o caminho traçado. "Confesso que, no início, tinha um certo receio de ficar no limbo, porque eu não faço nem algo que agrade totalmente aos fãs dos Titãs, porque não é exatamente música pop nem rock, nem aos fãs de MPB, eu sou um alienígena nesse meio. Muita gente pode achar interessante, mas outros podem torcer o nariz", recorda.
No entanto, foi por meio do trabalho duro e da paciência que Britto venceu os medos e superou os obstáculos que traziam receios. "Era um risco, mas eu tinha consciência dele. Aos poucos acho que eu estou quebrando um pouco isso, atraindo parte da audiência dos Titãs a ouvir coisas que eles não estão acostumados e também encontrando outras pessoas que ouvem esse tipo de música", reflete o cantor. "Eu vou construindo isso aqui com calma e priorizando a minha escolha artística", complementa.
Portanto, o lançamento deste The best of é uma escolha por vários reencontros. Britto se vê de frente ao público que juntou, volta a tocar as músicas que fez nesse caminho e se encontra mais uma vez na linha de frente da própria criação, cantando e lançando sob o próprio nome. "Lanço esse best-of para falar: 'olha tudo que eu fiz, olha o caminho que eu percorri, e agora eu vou dizer onde eu cheguei', destaca.
O disco é uma reapresentação do artista para velhos amigos. "Eu estou me reapresentando para mostrar que é assim que eu sou solo e, de agora em diante, será desse jeito", diz o músico, que promete outra abordagem na nova fase. "Eu pretendo dedicar mais tempo, abrir mais espaços na nossa agenda, gravar com mais frequência. Conversando com o Tony e com o Branco vi que isso agora vai ser bem possível", antecipa.
Sérgio Britto agora se prepara para rodar por mais lugares com esse projeto e promete um novo disco de inéditas em breve. O álbum já está gravado. "É o melhor disco que fiz até agora", promete o artista. A caminhada é distinta, mas não assusta mais. "É bacana, é um desafio, mas é mais um prazer que um desafio, sendo bem sincero", pondera.
Ainda na banda
Quando um artista sai em carreira solo, o costume é de que seja após uma separação da banda. Porém, Sérgio Britto vive situação completamente diversa. Ele é um dos últimos remanescentes dos Titãs e continua a se apresentar com a banda que o fez famoso. "Outro dia tocamos para 105 mil pessoas em show gratuito em Matinhos", conta o artista.
Por este motivo, ele tem que se acostumar novamente com o formato solo. Tudo é diferente, os estádios lotados e festivais cheios de atrações dão espaços a shows intimistas em casas pequenas. "Você se vicia nessa relação de êxtase e você precisa um pouco se desvencilhar disso", acredita o músico. Porém, qualquer hora é hora de experiências novas para o eterno Titã. "Eu acho que é um exercício muito bom para mim, um aprendizado aos 65 anos de idade. Ainda dá para aprender algumas coisas novas", exalta.