Crítica

Infindável atrocidade está no documentário de guerra Sem chão

Vencedor do Oscar de melhor documentário, Sem chão revela a aliança improvável entre um palestino e um israelense, em meio a embates bélicos

Sem chão: Oscar de melhor documentário em 2025 
 -  (crédito:  synapse)
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Sem chão: Oscar de melhor documentário em 2025 - (crédito: synapse)

Crítica // Sem chão ★★★★★

Coprodução entre a Noruega e o Território Ocupado da Palestina, Sem chão traz o perfeito e ambíguo título, que massacra o espectador com uma convulsiva tensão afunilada pelo ângulo pessoal para as atrocidades cometidas em Masafer Yatta, num insano cotidiano de ocupação pelo Exército israelense na região ao sul da Cisjordônia.

Filmado até outubro de 2023, época de acirramento completo do conflito (dada a onda de ataques do Hamas), o filme, vencedor do Oscar de melhor documentário em 2025, se apoia na inesperada cumplicidade entre o palestino Basel Adra e o jornalista israelense Yuval Abraham, infiltrado num coletivo cinematográfico integrado ainda por Rachel Szor e Hamdan Ballal.

Remoções, tiros à queima roupa, prisões e uma juventude exaurida servem de legado para os desmandos numa terra varrida por poderios tecnológico e militar e que tenta desvincular palestinos de suas terras. Sob a finalidade de limitar a "expansão de aldeias árabes", um cerco (institucionalizado pela justiça) instaurou zonas de treinamento militar no terreno de pólvora.

Entre violento convívio com colonos israelenses (sob a conivência militar), o filho de ativista Basel tenta equilibrar responsabilidades adquiridas numa família fraturada e balizada pela falta de perspectivas do personagem (codiretor do filme) que dispara: "Não temos estabilidade". Entre sessões de montar e desmontar casas e arbitrariedades, Basel deixa pistas das derrotas acumuladas como "mão de obra barata", mesmo que diplomado em direito.

Inquietações pulsantes, desmandos, registros violentos e desespero por mais visibilidade em postagens de denúncia atravessam a tela. Entre tanto descontrole, dilaceram os destino do imobilizado cidadão Harun e o rastro de desconstrução relegado a aldeias, a todo momento, esfaceladas.

 

 

Ricardo Daehn
postado em 14/03/2025 11:15 / atualizado em 14/03/2025 11:23