
"Se o amor transforma água em vinho, sapo em príncipe e poemas em canções, também pode humanizar o malandro." Com essa citação, o ator David Júnior defende o seu personagem em Mania de você, um homem que se infiltrou, com esposa e filha, na casa de uma viúva cheia da grana para se dar bem, casou com ela e acabou se apaixonando verdadeiramente. Com entusiasmo, em um bate- papo com o Correio, o fluminense de Nova Iguaçu compartilha a repercussão positiva de seu personagem. "Estou levando alegria para dentro das casas dos brasileiros. Isso não tem preço", afirma o ator, ressaltando a importância de emocionar e entreter.
Atuando em novelas há 14 anos, David Junior chamou a atenção em 2016, quando atuou em uma cena tórrida de sexo com Maitê Proença na novela Liberdade, liberdade, em que interpretou um homem escravizado chamado Saviano. Após viver novamente um escravo em O tempo não para, em 2018, dividiu com Rômulo Estrela o posto de mocinho de Bom sucesso, escrita por Rosane Svartman. Ele emprestou seu corpo a Ramon, um jogador de basquete profissional com carreira ascendente nos Estados Unidos. De lá para cá, o sagitariano de 39 anos segue trilhando um caminho marcado pela representatividade e pelo compromisso com narrativas diversas.
Atualmente no ar no horário nobre da Globo com esse personagem controverso que caiu nas graças do público, o ator aguarda a estreia de Dona Beja, na Max, em que divide o protagonismo novamente com Grazi Massafera, sua parceira na novela Bom sucesso, em 2019, quando marcou a história ao dar vida a um mocinho preto que fugia dos estereótipos clássicos. "É urgente que a sociedade humanize corpos pretos, nos permita viver para além dos estereótipos, e estamos caminhando para isso", comemora David, que também pode ser visto como um dos protagonistas da série Fim, de Fernanda Torres, disponível no Globoplay.
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Mal encerrou as gravações de Dona Beja, onde interpretou o protagonista Antônio, David mergulhou de cabeça no universo de Sirlei. Para ele, o tempo entre uma produção e outra é essencial para renovar sua bagagem artística. "Geralmente, vou para a rua e me coloco como espectador. Transeuntes são ricos em trejeitos e dialetos", conta. Sobre o remake, David Junior garante que o público pode esperar um projeto inovador. "Apesar de ser um remake, é ousado e atual", confessa o filho ilustre da Baixada Fluminense.
A participação e vitória no The Masked Singer Brasil, em 2022, também foram um marco em sua trajetória. "Desbloqueei meu lado cantor que sempre existiu, mas que por autossabotagem descredibilizava meu talento e paixão pela música", revela. David Junior também celebra a ampliação da produção audiovisual para diferentes mídias. "É o futuro!", afirma.

Entrevista | David Junior
Como tem sido a repercussão do Sirlei junto ao público?
Tem sido maravilhosa! Ouço de tudo, mas o mais importante é saber que estou levando alegria pra dentro das casas dos brasileiros. Isso não tem preço.
Se precisasse atuar como advogado de defesa do controverso personagem, qual seria o seu principal argumento?
Se o amor transforma água em vinho, sapo em príncipe e poemas em canções, pode humanizar o malandro.
Como você descreve sua experiência em trabalhar com um elenco que inclui veteranas, como Eliane Giardini, Mariana Ximenes e Thalita Carauta e novatos como, Gi Fernandes e Paulo Mendes?
Estou sempre disposto a aprender com todos os encontros que a vida me proporciona. Ouvindo suas histórias e experiências, procuro guardar algo que agregue na minha vida e possa usar em algum momento, dentro e fora de cena. Meus parceiros são maravilhosos, nossa coxia é leve, divertida. Às vezes, combinamos de pedir comida e almoçarmos juntos, aos sábados, antes do estúdio, para confraternizar. A leveza é a essência da nossa trupe.
Você mal terminou de gravar a novela Dona Beja como o protagonista Antônio e já precisou encarar um novo personagem no horário nobre da Globo. Como é a sua preparação para sair de um universo a outro completamente diferente?
Nesse último processo, ganhei 50 dias para descansar e ter tempo de renovar meu estoque de referências. Geralmente, vou pra rua e me coloco como expectador. Transeuntes são ricos em trejeitos e dialetos; puxo um papo com alguns perfis interessantes, faço perguntas pessoais e ouço. Ouço com atenção sua história, a forma de falar, os movimentos corporais e as manias. Para o Sirlei, eu criei um dicionário de gírias e provérbios populares. Quando estou estudando uma cena, pesquiso o que cabe dentro do texto que o Sirlei usaria e me divirto muito com isso.
O que o público pode esperar de Dona Beja?
Um projeto ousado, atual, apesar de ser um remake, com fotografia, direção e figurino magníficos, um elenco maravilhoso e diverso, tudo feito com muito amor e empenho. A história sendo contada sobre uma ótica inovadora e absolutamente crível. Já estou ansioso para essa estreia.
Como você descreveria sua experiência em trabalhar em diferentes plataformas, como TV, cinema e streaming?
É o futuro! Acho que o mercado precisa estar cada vez mais aberto a novas produções, e eu tenho o maior orgulho de construir narrativas diversas em múltiplas plataformas, espero continuar neste caminho.
Como você acha que a representação da diversidade étnica na tevê brasileira está evoluindo, e como se sente tendo um papel importante nesse processo, sendo um dos ainda raros atores pretos a protagonizarem uma novela?
Estamos no caminho da mudança. É urgente que a sociedade humanize corpos pretos, nos permita viver para além dos estereótipos, e estamos caminhando para isso. Estamos galgando a oportunidade de contarmos nossas histórias, através da nossa ótica, e isso significa que precisamos ocupar os lugares de direção, produção executiva, coordenação de elenco, roteiro, entre outras que regem nossa dramaturgia. Para mim, esse é o caminho da revolução.
Como a sua carreira de ator e até mesmo sua vida pessoal foi influenciada pela sua experiência como vencedor do The Masked Singer Brasil?
O The Masked Singer foi um marco histórico na minha jornada. Desbloqueei meu lado cantor que sempre existiu, mas por autossabotagem descredibilizava meu talento e minha paixão pela música. A pandemia me permitiu olhar para o que de fato importa, e a música me reencontrou. Além da Hora do Blec, em que atuo como cantor e compositor, tenho criado outras obras autorais. Em breve, teremos novidade por aí.