
Cada vez mais perto da linha de decisão, o Oscar teve mais um termômetro que ajudou a definir apostas para a premiação tão esperada pelos brasileiros: mesmo fora da disputa do SAG (Screen Actors Guild), a atriz brasileira Fernanda Torres viu as chances de vitória da estatueta dourada (pelo desempenho em Ainda estou aqui) mais enfraquecidas, uma vez que a concorrente direta dela — Demi Moore (de A substância) — saiu laureada com o SAG de melhor atriz, junto com combo anterior que incluiu o Critics Choice e o Globo de Ouro de melhor atriz (em musical ou comédia, segmento bem discutível).
Demi Moore estar na cabeceira da confraternização do Oscar não traria grande estranheza: ela é uma antiga garota de ouro da indústria hollywoodiana (com amplo efeito de bilheteria nos anos de 1990, vide sucessos como Ghost e Homens de honra) e está num terror que diz muito sobre a beleza — elemento de base para muitos filmes. Além disso, há o drama pessoal junto ao ex-marido Bruce Willis (adoentado e com que nutre ampla relação afetiva). E mais, com A substância, ela crava um retorno — fator que traz o gatilho de muitos votantes da Academia: vide premiações como as de Renée Zellweger, Hilary Swank, Shirley Booth, Helen Mirren e Elizabeth Taylor, além de, mais recentemente, as dos atores Ke Huy Quan e Brendan Fraser.
Fernanda Torres, além do Globo de Ouro de atriz em drama (todas as outras concorrentes se alinham a gêneros desfavorecidos em premiações: musical, terror e uma comédia romântica, com fundo de drama), traz uma participação em filme internacional — dado progressivamente valorizado pelos quase 10 mil votantes do Oscar. Há o oportunismo da lacuna de 17 anos sem uma atriz central vitoriosa por papel não falado em inglês (a última foi Marion Cotillard, por Piaf — Hino ao amor). Tudo isso coroado pelo passado injustiçado da mãe, Fernanda Montenegro (selecionada ao Oscar, por Central do Brasil).
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Entre as 19 classes de profissionais que votam no Oscar (em pleito encerrado no último dia 18), a maioria (quase 13%) é de atores. Nisso, há cada vez mais encorajamento de diversidade na composição dos eleitores — traço que favorece o olhar sobre Fernanda Torres, com maior número de votantes apartados da rotina e comprometimento hollywoodianos. Ainda dentro do âmbito do SAG, a vitória de Timothée Chalamet (na pele de Bob Dylan, em Um completo desconhecido) balança o favoritismo de Adrien Brody (virtual vencedor por O brutalista). O SAG trouxe chancela para as vitórias dos coadjuvantes Kieran Culkin (A verdadeira dor) e Zoe Saldaña (Emilia Pérez). Com potente corpo de votantes no Oscar, os definidores do SAG ainda endossaram o impulso do longa Conclave — com notável potencial para vencer como melhor filme.