
O grupo de rap ADL (Além da Loucura) lança o terceiro álbum da carreira, intitulado Da Boca, com participações de grandes nomes do rap nacional, como MV Bill, Sombra , DJ Cia e Ingrid Monteiro. Com 47 minutos, as dez músicas do álbum relatam e denunciam vivências de comunidades periféricas do Rio de Janeiro e do Brasil.
Direto de Teresópolis (Rio de Janeiro), ADL é composto pelos músicos Lord, DK47, Índio e o produtor executivo TG, e é referência no cenário nacional do hip hop lírico, que tem como fundamento a conscientização por meio da música. Para a construção do novo álbum, os integrantes se inspiraram naquilo que passa de boca em boca das pessoas da sociedade: as gírias populares.
“Quando a gente traz a poesia para dentro da boca, a gente começa a ver um universo gigante. É a boca que comunica, a boca que fala, a boca que canta rap, as bocas que são caladas, as bocas que não estão sendo sustentadas, as bocas silenciadas”, relata DK.
Foi a partir disso que o conjunto decidiu representar a realidade com a verdade nua e crua de expressões que são usadas diariamente entre os brasileiros. Durante os 47 minutos e dez músicas, que recebem gírias das comunidades do Rio de Janeiro como título, os artistas poetizam sobre os diversos sentidos que uma única palavra pode ter, em diferentes contextos e com diferentes histórias para contar.
“Ainda é usado aqui como confirmação, mas o que que é a palavra ainda para a poesia? Ainda estamos vivos, ainda vamos até o final, ainda vamos lutar, para de jogar bomba em nós que a gente ainda tá aqui”, ressalta DK. Ainda é a penúltima faixa do álbum e traça um caminho de resistência às vivências comuns nas periferias brasileiras.
Segundo DK, o disco é resultado de uma vida inteira de experiências individuais e compartilhadas: “Eu digo que a construção de tudo o que acontece no álbum é desde o momento que a gente entende o mundo quando criança. Tudo que a gente fala agora adulto, na verdade, tem a ver com a nossa infância, o nosso primeiro contato com o mundo”.
Rap de mensagem
Os integrantes do grupo carregam, desde o início da carreira, a responsabilidade enquanto artistas de dar voz às bocas caladas, criando ambientes de identificação e reflexão. “Queremos chegar aos ouvidos das pessoas que se identificam, mas também das pessoas que se questionam, e questionam atitudes, abrem um novo horizonte, um novo ponto de vista sobre algum assunto”, afirma Lord.
“A gente entrega o que é necessário, algo mais do que música, mais do que só a letra, mais do que só o rap em si e uma produção musical”, completa. “A gente entrega realmente as necessidades, as demandas que a favela precisa, os pontos de vista que são silenciados.”
Ao transformar expressões da favela em poesia e em grito de resistência, o grupo retoma a essência do movimento hip hop, com letras escritas a partir de vivências, percepções e sentimentos reais. “A gente é muito realista sobre o que a gente faz, de crítica. É muito mais sobre entregar um trabalho social do que buscar por glamour”, conta Lord.
Além da característica lírica, o disco mergulha nas raízes musicais do movimento. Combinando elementos orgânicos, como flautas e corais, com a tecnologia analógica da fita magnética de 1/4 polegada, o grupo resgata características sonoras marcantes dos primórdios do rap.
“É meio que um ato de resistência, um grito pela nossa ancestralidade, por todo mundo que veio antes e fez primeiro, que alcançou várias coisas e abriu o caminho da selva pra hoje a galera tá falando de dinheiro, de roupa, de carro e de ostentação. É meio que uma reverência mesmo às nossas raízes”, enfatiza o integrante BK.
*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel