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Vitor Hugo faz sucesso em Portugal e relembra trabalhos marcantes do Brasil

Vivendo em Portugal desde 2017, Vitor Hugo emenda trabalhos na tevê, como as novelas Cacau e A fazenda, ambas lançadas em 2024. O ex-ator mirim da TV Globo relembra papeis em obras como "Perigosa peruas", de 1992, quando tinha 15 anos

Vitor Hugo, ator -  (crédito: Divulgação)
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Vitor Hugo, ator - (crédito: Divulgação)

Com a entrada no catálogo do Globoplay de Perigosas peruas, uma novela exibida originalmente em 1992, e a recente reprise de Cabocla, de 2004, nas tardes da TV Globo, o público teve a oportunidade de rever em cena um rosto familiar nas duas produções, ainda que com um intervalo de 12 anos entre uma e outra: o ator Vitor Hugo, que, no trabalho de estreia, tinha apenas 15 anos. Atualmente fora da teledramaturgia brasileira, engana-se quem pensa que o artista está afastado do trabalho. Vivendo em Portugal, o carioca vem emendando uma produção na outra por lá. Ele chegou ao país europeu em 2017 e, desde então, tem trabalhado em várias obras da TVI, como as novelas Cacau e A fazenda, ambas de 2024. 

"Em Cacau, que é uma telenovela que teve um sucesso absoluto, e foi anterior a essa, eu fazia um personagem muito coringa (Valdemar). Ele era um mestre em artes marciais, ao mesmo tempo, tinha uma grande sequência de cenas a se passar por homossexual, tinha uma outra grande sequência de cenas a se passar por um grande aristocrata do café. De uma finesse, de um requinte imenso, e o personagem tinha todas essas misturas. E agora, o Edgar Miranda (diretor, com quem trabalho desde 1992), me pediu para que eu conseguisse me distanciar desse outro personagem que tinha essas características, e eu não queria que fizesse nada muito parecido, e eu já tinha explorado, ali, três margens diferentes no personagem da Cacau. Agora, em A fazenda, Ivandro, é um vaqueiro, quer dizer, ele se apresenta como um vaqueiro, mas ele não é. Portanto, ele também tem uma dupla identidade", conta Vitor Hugo.

Hoje prestes a completar 48 anos, o ator conta que se inspirou na literatura brasileira, especialmente na obra de Guimarães Rosa, para criar o novo personagem. "A minha proposta foi fazer o personagem com o sotaque, com o sotaque do sertão, agarrei e abracei a obra do Guimarães Rosa, sobretudo os livros Corpo de baile, Primeiras histórias e, majoritariamente, o clássico e inigualável Grande Sertão: Veredas, na figura do personagem Riobaldo, porque ali é uma língua, como diz o Guimarães Rosa, uma língua de um Brasil nascente", relata.

A fazenda é uma parceria entre a emissora lusitana e a Amazon, e foi gravada em Angola. Vitor Hugo esteve por duas vezes no país para efetivar as gravações, em um intervalo de 30 dias. A primeira vez, ele ficou por 20 dias em Huíla, que é uma província mais interiorana, onde foram feitas as gravações, majoritariamente, vinculadas à fazenda." Era onde havia uma fazenda produtiva de gado, de agricultura, sobretudo, de frutas; também de reaproveitamento de madeira, com barragens construídas para recuperar a água da chuva, uma fazenda que era autossustentável. Nesse sentido, foi interessante porque é a ideia da fazenda, é a ideia da novela também, de trabalhar um conceito de sustentabilidade, e isso foi muito importante", explica.

 

Vitor Hugo é Ivandro na novela "A fazenda", na TVI, em Portugal
Vitor Hugo é Ivandro na novela "A fazenda", na TVI, em Portugal (foto: Divulgação)

Casamento bem-sucedido

O ator comemora o fato de estar na quarta obra da autora Maria João Mira e o casamento com a TVI, rede de televisão que abriu as portas para ele desde que chegou em Portugal. "A TVI me abraçou e me agraciou com o privilégio de poder fazer parte, praticamente, em todas as telenovelas desde 2017. O meu trabalho tem tido as portas abertas. Sempre entro com muita gratidão, porque os caminhos são sempre muito difíceis, os caminhos da profissão também são difíceis, incertos, em qualquer parte do mundo. E poder me estabelecer em um país estrangeiro, como imigrante, isso é ainda mais difícil, mas me sinto muito agraciado por tudo, e sou muito grato", conclui.

Vitor Hugo também atuou em A herdeira (2017), A teia (2018), Prisioneira (2019) e Bem-me-quer (2020), sempre em papéis de destaque. Ele ainda assinou ainda a direção de atores de outras duas telenovelas: Amar demais e Quero é viver — ambas indicadas a Melhor Telenovela em renomadas premiações televisivas. No Brasil, o ator coleciona trabalhos na tevê, no teatro e no cinema, com destaque para o longa-metragem Fica comigo (1997), que protagonizou ao lado de Antônio Fagundes e que foi dirigido por Tizuca Yamasaki. Ele atuou nas produções da Globo Sex appeal (minissérie de 1993 que revelou nomes como Luana Piovani, Camila Pitanga, Carolina Dieckmann, Danielle Winnitz, Nico Puig e Felipe Folgosi), Corpo dourado (1998), Laços de família (2000) e O profeta (2006), na Globo.

"Eu vejo esse movimento de reaproveitar as telenovelas que a TV Globo já fez de imenso sucesso e colocá-las no streaming como um movimento completamente coerente de você disponibilizar coisas que foram feitas no passado e que podem estar ao alcance de um público que não teve oportunidade de ver, porque nasceram depois ou porque não puderam acompanhar na ocasião. Para mim, tem o todo gosto em fazer parte disso", avalia o ator.

Na Record, Vitor Hugo esteve em novelas como Chamas da vida (2009) e Pecado mortal (2013), além de diversas produções bíblicas como O rico e Lázaro (2017), Os dez mandamentos (2015 e 2016), José do Egito (2013), Rei Davi (2012) e A história de Ester (2010 e 2011). Sobre essas obras, o ator revela um profundo orgulho e grande gratidão por ter participado. "São personagens que mergulham muito fundo na alma humana e que, de alguma maneira, tocam o coração, sobretudo na nação brasileira. É um privilégio você poder tocar o coração de muitas pessoas, levando personagens que já fazem parte do imaginário e que são exemplos de ética, de conduta. E há também os personagens de exemplos negativos, onde servem como o lado da sombra, o lado da ignorância, para nos fazer ter um entendimento do lado da bondade, do lado do amor e do lado da Luz", defende ele.

Para o ator, a experiência na Record foi "preciosa". "Foram anos de ouro, anos onde eu pude ser cada vez mais desafiado por bons e intensos personagens. Esse período na Record me ajudou a consolidar muito a minha carreira e a crescer muito como ator pelos desafios contínuos. Eu estive 10 anos na Record e acho que eu fiz 12 telenovelas. Eu nunca parei de trabalhar por lá. Foi um grande privilégio", conclui.

Vitor Hugo também atuou, produziu e dirigiu mais de uma dezena de espetáculos teatrais, com enfoque para Capitães de areia, de Jorge Amado, pelo qual foi laureado, já aos 15 anos de idade, como Melhor Ator Revelação no Prêmio Coca-Cola de Teatro, em 1992, e foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro, em 1995.

E os planos de retorno para o Brasil? "É sempre tudo muito aberto. O sorriso permanece no rosto, pois o Brasil também tem o direito ao nosso coração, e é um direito conquistado. Mas, de imediato não, neste momento não, a família está estabelecida", finaliza Vitor Hugo.

Patrick Selvatti
postado em 13/02/2025 08:00