À dada altura do longa Maria Callas, a diva da ópera interpretada por Angelina Jolie, promete levar adiante uma autobiografia. Será, portanto, uma nova janela para a revisão de sua história, uma vez que, inicialmente, há o filme projetado na tela e idealizado pelo prestigiado cineasta chileno Pablo Larraín e, dentro do enredo, um jovem entrevistador que pretende mapear a personalidade para montar o registro documental La Callas: Os últimos dias. Sem grande surpresa o longa-metragem de Larraín cede a uma moldura teatralizada, em que todos os gestos são premeditados pela estrela Jolie, perfeita, ao abraçar o papel mais desafiador até o momento. A sistemática paixão despertada nos repórteres, a trágica vivência (repleta de devaneios) e o sufocamento da mídia estão alinhados na trajetória da cantora greco-americana, morta aos 53 anos, em 16 de setembro de 1977.
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"Frequentemente, nós, como artistas, não sabemos o alcance do nosso trabalho, ou mesmo não esperamos gentileza. Você esperando, incerta, quanto ao apoio e a conexão junto aos espectadores. Maria Callas, entretanto, ressoou", comentou a estrela Jolie, para a Variety, antes mesmo da aclamação com as indicações de melhor atriz, no Critics Choice, no Globo de Ouro, no Satellite Awards e ainda no circuito de Críticos de Nova York e de um prêmio, pela carreira, em Palm Springs. Aos 49 anos, Jolie se aproxima da real idade de Callas, morta aos 53 anos. Contrária à perfeição das gravações de discos, Callas prezava "o canto humano", e as performances (viscerais), e "diferentes", a cada investida nos palcos. Na tela, Jolie rende algo com cara de frescor.
A Callas exibida no longa crê ainda que a felicidade nunca tenha rendido uma bela melodia. E é neste compasso nostálgico e algo insano, que, sob extrema cobrança (há quem a veja como um "sapo roxo", à época da derrocada), que a protagonista embala situações de contraste, entre "a luta" e "a vergonha", entre a vida e a morte, a sanidade e a loucura. Sem padronização, o diretor Larraín mistura gramaturas de imagens e alterna o colorido com preto e branco, sem maiores reservas. Não é apenas o organismo que está frágil, ao termo da jornada em que, "finalmente", a soprano se vê "no controle". Tudo, entretanto, parece tarde, uma vez que fica impossível reviver a era clássica que posicionou-a como bela intérprete de obras de Donizetti e Puccini, e uma incomparável cantora lírica a ocupar a casa londrina de Convent Garden e o impactante La Scala (Milão, Itália).
É a Maria Callas da tela que delimita a ausência de razão na ópera, ao instante em que resume sua "vida" à ópera. Numa cena, assemelhada a um fantasma, Callas vai aos limites e, ajoelhada, cata estilhaços do prestígio do qual gozou, no passado, na companhia fiel dos cachorros de estimação donos de um choro estridente. Ferida na autoconfiança, a cinebiografada rende um filme inspirado do cineasta que, em 2016, pôs Natalie Portman a interpretar Jacqueline Kennedy (futura esposa do magnata Aristóteles Onassis, figura, claro, presente em Maria Callas) e 2021, em Spencer, esquadrinhou a vida da princesa Diana (no aclamado filme com Kristen Stewart).
Entre tiradas divertidas como a de que "homens mortos, são mais fáceis de lidar" e de que o amor de caninos se resume "em 99%" à necessidade de alimentação, o roteiro de Steven Knight (de Spencer e Coisas belas e sujas) envereda muito para a introspecção e a condição reclusa da personalidade que ganhava dez vezes menos do que Frank Sinatra. Um capítulo à parte está na relação da diva com aqueles que mais a entendem: os serviçais Ferruccio (Pierfrancesco Favino) e Bruna (Alba Rohrwacher), isso além da irmã Yakinthi (Valeria Golino) e a penca de remédios com a qual Callas manteve estreita dependência.
Entre gritos e uivos
Um homem que rosna para a filha e é capaz de comer carne seca acondicionada de modo primitivo — com a descrição, o espectador já se ambienta para acompanhar o terror do mesmo cineasta que remodelou um vilão, em O homem invisível (2020), e agora comparece à frente de Lobisomem: Leigh Whannell. Retorcido e desajustado ao corpo, Blake (Christopher Abbot) tem vida pregressa idealizada: mora em Nova York, com a filha Ginger (Matilda Firth) e a esposa Charlotte (Julia Garner), isso até ser forçado a buscar a vizinhança em floresta do Oregon habitada por pessoas isoladas como Derek (Benedict Hardie).
A mudança é precedida por uma série de pensamentos populares como o da existência da Febre das Colinas (a mesma enfermidade que indígenas batizaram de "A Cara do Lobo), explorada em conversas, desde o sumiço de um trilheiro, nos idos de 1995. Enfrentar animais e doenças, numa tensa adaptação ao ambiente, vem como alerta para a família, no decorrer do longa que teve roteiro desenvolvido por Whannell e Corbett Tuck.
Nos bastidores do filme, vale a menção de que Arjen Tuiten, o holandês responsável por caracterizações vistas na telona (entre as quais Homem de Ferro 2 e O labirinto do fauno), levava até sete horas de trabalhos junto a personagens como os do patriarca vivido por Abbott. Entre quedas de unhas e dentes e poças de vômito de sangue, ficam os rastros e resquícios da antiga presença de Blake no decorrer da narrativa.
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