
Após a espanhola Karla Sofía Gascón, atriz principal do musical Emilia Pérez, afirmar, em entrevista à Folha de S.Paulo publicada na última terça-feira (28/1), que pessoas que trabalham com Fernanda Torres falariam mal dela e do filme que protagoniza, internautas pediram a desclassificação dela da categoria de Melhor atriz no Oscar. De acordo norma da Academia, não é tolerado qualquer comunicação pública de pessoas associadas a um filme elegível contra um concorrente.
Segundo Gascón contou à Folha em 21 de janeiro, equipes de redes sociais que trabalham ao redor da intérprete de Eunice Paiva, de Ainda estou aqui, “tentam diminuir o trabalho de outras”, como o dela ou do filme que protagoniza.
“Para ressaltar o trabalho de uma pessoa, não é necessário afundar o trabalho dos demais”, disse. “Em nenhum momento alguém me verá falando mal de Fernanda Torres ou do filme de Fernanda Torres. Mas, por outro lado, há pessoas que trabalham com Fernanda Torres que falam mal de mim e de Emilia Pérez. Isso fala mais deles e do filme deles do que do meu.”
Diretrizes disponíveis no site da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação mais importante do cinema, surgiram em redes sociais pouco tempo após a declaração. A norma relativa a campanhas promocionais de filmes submetidos à consideração da organização, número 4 no documento, traz o seguinte esclarecimento:
“Comunicações públicas (incluindo quaisquer postagens em mídias sociais, republicações, compartilhamentos e comentários) por membros da Academia, empresas cinematográficas ou indivíduos diretamente associados a um filme elegível não podem:
- Declarar decisões, preferências ou estratégias de votação;
- Incentivar ou desencorajar membros a votarem em qualquer filme, desempenho ou realização;
- Fazer referência a uma reunião cinematográfica, que não atenda ou exceda requisitos de elegibilidade para o Oscar, como Padrões de Inclusão ou limites de distribuição teatral;
- Compartilhar informações enganosas ou falsas sobre um filme, performance ou conquista.”
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Além disso, diz a regra seguinte — a 5 —, não é permitido, para os mesmos agentes mencionados na norma anterior, “comparar ou classificar o filme, performances ou conquistas em relação à votação”; “tentar incentivar outros membros a votarem ou não para qualquer filme ou conquista”; e “pressionar outros membros diretamente ou de maneira fora do escopo destes regulamentos promocionais para promover um filme, desempenho ou realização”.
Internautas acreditam que a atriz de Emilia Pérez teria quebrado estas regras na entrevista concedida à Folha. A polêmica chegou na imprensa norte-americana, e a revista Variety conversou com Karla Sofía Gascón sobre a declaração. De acordo com a atriz espanhola, os comentários dela não foram“diretamente associados” à artista de Ainda estou aqui, mas à “toxidade e a discursos violentos de ódio nas redes sociais”.
Karla Sofía Gascón garantiu que “ninguém diretamente associado a ela (Torres) tem sido nada além de solidário e extremamente generoso”. De acordo com a Variety, a atriz não teria violado nenhuma norma.
Possíveis penalidades
“Para proteger a reputação e a integridade do processo de premiação”, afirma a norma do Oscar, penalidades para aqueles que cometeram violações, se confirmadas pela Academia, no período de campanha promocional, podem incluir, entre outros: suspensão ou revogação de privilégios de correspondência e comunicações; revogação de privilégios para participar de eventos; desqualificação de filme, performance ou conquista para consideração de prêmios; e reivindicação de indicação ao Oscar.
“A administração da Academia também pode determinar que uma suposta violação é de natureza menos grave e, portanto, deve ser resolvida pela administração sem encaminhar o assunto ao Comitê de Premiação para possíveis penalidades”, acrescenta. “A Academia é a única a determinar as regras de premiação, e todas as decisões sobre as regras da Academia são finais e inapeláveis.”
Em 2014, a organização rescindiu uma indicação à categoria de melhor canção original devido ao fato de o compositor ter pressionado membros votantes. Em 2023, apesar de ter encontrado irregularidades na campanha da atriz Andrea Riseborough, a Academia optou por não puni-la.