Música

Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília explora diversos ritmos

 A 46ª edição do Curso Internacional de Verão da Escola de Música traz músicos que frequentaram o evento durante anos e hoje estão de volta como professores

Este ano, o festival conta com 50 cursos e mais de 3 mil inscritos -  (crédito: Renato Cortez)
Este ano, o festival conta com 50 cursos e mais de 3 mil inscritos - (crédito: Renato Cortez)

Com uma programação de 50 cursos e mais de três mil inscritos, o 46º Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra) transforma a capital federal em um palco para o encontro entre estudantes e professores renomados que podem mudar os rumos dos jovens aspirantes à carreira de músico profissional. Com aulas e oficinas que se estendem até o dia 25 e uma agenda intensa de apresentações diárias com shows dos mais diversos gêneros musicais, a Escola de Música de Brasília (EMB) será o epicentro de um evento que hoje faz parte do calendário de festivais de música do Brasil. 

Este ano, o Civebra homenageia Joaquim Antônio Callado da Silva, considerado o pai do choro, e o francês Maurice Ravel, cujos 150 anos de nascimento são celebrados em 2025. "Os dois foram inovadores e desafiadores em relação ao que acontecia na época musicalmente e na relação da música com o povo. E vamos homenagear a competência musical de ambos", avisa Davson de Souza, diretor da EMB. Flautista e compositor carioca nascido em 1848, Callado ganhou um significado especial após o choro ter sido declarado patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2024. 

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Além de professores convidados do Brasil inteiro e de outros países, o Civebra mantém a tradição de trazer ex-alunos que alçaram voo no mundo da música para, agora, conduzirem as oficinas e master classes. De fora do país, o curso recebe o fagotista bielorusso Serguei Kuushynchykau, a flautista italiana Lívia Lanfranchi, a harpista venezuelana Marisela González, o trombonista japonês Yu Tamaki Hoso e a violoncelista americana Carrie Pierce. Na lista de brasileiros, estão nomes tradicionais no curso, como a pianista Maria Teresa Madeira, o guitarrista Lula Galvão, o gaitista Pablo Fagundes e o cravista Alessandro Santoro. "Este ano, a gente vem mantendo e ampliando o mote de fazer com que a maioria dos convidados para dar aula sejam ex-alunos da EMB", garante Davson. 

Entre os ex-alunos da escola estarão presentes o violonista Pedro Aguiar, o pianista Arthur Mardem, o percussionista Bruno Lucini e o maestro Leandro Gazineu, todos com trajetórias que passam pelo Civebra e desembocam em cenas importantes da música mundial. "Por ser um celeiro de produção de grandes instrumentistas, com ex-alunos espalhados pelo mundo inteiro e atuando com música em posições de destaque, o curso de verão vem completar essa formação dada na EMB e vice -versa. É um período mais intensivo", explica Davson, que  também aposta no caráter democrático e diverso do curso. "A principal coisa é a interação e a diversidade entre as pessoas, independente de crença, de gênero, de cor, de credo. A única coisa que importa é o quanto você consegue produzir em música aprendendo e dividindo conhecimento. É um curso tão democrático que consegue atender e abraçar estudantes que estão no início e os que estão superavançados. Profissionais vêm para se atualizar e se aprofundar. E todo mundo respeita os limites uns dos outros e procura ajudar o próximo para que todos consigam atuar e aprender juntos."

Profissional

Para o pianista Arthur Mardem, passar pelo curso de verão foi fundamental para compreender as dinâmicas da carreira profissional de um músico. Com bacharelado e mestrado na École Supérieure de Musique de Lausanne e hoje um dos nomes à frente do projeto Núcleos Educacionais Orquestrais Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba), ele fez o primeiro Civebra aos 12 anos. "O primeiro professor que encontrei foi o russo Sergei Dukachev, que veio da grande escola russa. Tudo que eu via e ouvia em CDs se materializou em pequena escala naquele momento. Foram coisas que mudaram completamente meus parâmetros do que é ser músico. Isso cria uma ambiência diferente para quem quer decidir fazer isso na vida", explica Mardem que, este ano, participa do curso como correpetidor. Segundo o pianista, que também estudou na França graças a um contato feito durante o Civebra, o evento era o momento de ter acesso a nomes que raramente passariam por Brasília em situações comuns de concertos e atividades pedagógicas. "E a gente estudava para isso. Você tinha seu professor do dia a dia e meio que estudava já visando os próximos festivais", conta.

Brasiliense criado em Sobradinho, o violonista Pedro Aguiar hoje mora entre Paris e Munique, cidades nas quais estudou violão erudito e onde mantém uma intensa agenda de apresentações. Aos 34 anos, egresso de um projeto social de uma orquestra de violões e ex-aluno do Civebra, ele volta a Brasília para ministrar o curso de violão erudito durante o evento. "Para mim, significa muito voltar agora como professor, depois de toda essa trajetória e com experiência", conta. "O que eu gostaria de passar para os alunos é o que eu gostaria de ter ouvido e que teria sido essencial: 'Quer fazer música mesmo? Se planeje'."  

Quando decidiu estudar em Paris com Judicaël Perroy, astro do violão erudito que o aceitou como aluno, Pedro pouco se planejou e enfrentou muitas dificuldades para encontrar moradia e pagar as contas. Com ajuda de amigos, seguiu adiante até conseguir uma bolsa na Escola Superior de Música de Munique, na Alemanha. Foi um percurso difícil, mas que deu certo. "Para isso, você tem que pensar na dedicação ao instrumento, mas também em maneiras de continuar a estudar", avisa o músico, que tem dois discos gravados, um deles dedicado aos 12 estudos para violão de Heitor Villa-Lobos. Ele participou do primeiro Civebra em 2014, muito antes de estudar música na Universidade Federal de Goiás (UFG). "Foi como uma imersão em uma ilha encantada. Nunca tinha visto tanta gente fazendo música junto em tantos lugares, tantos concertos, gente tocando violão muito bem, praticando em todos os cantos, embaixo de árvores. Isso, para mim, foi marcante", lembra. 

Percussão

Outro aluno antigo que está de volta para ministrar oficinas é Bruno Lucini, que frequenta o Civebra desde a década de 1980, quando participava das aulas de percussão de Ney Rosauro. "Tenho muito orgulho da escola", conta o percussionista, que mora nos Estados Unidos desde 2005. "Eu tinha uma ideia de misturar vários tipos de percussão de mão ou com baquetas em um set só e fui uma das primeiras pessoas a fazer isso consistentemente, uma coisa que hoje em dia já é comum, mas na minha época não era", conta Lucini, que na época tocava na banda de salsa Cocina del diablo. "Comecei a fazer isso nos anos 1990 e a Escola de Música tem muito a ver com isso, porque foi a disciplina e o método aplicados pelo professor Ney Rosauro que me ajudaram a organizar essa fusão de instrumentos de percussão que a gente até hoje chama de independência."

 


  • O violonista erudito Pedro Aguiar vai dar aulas no evento
    O violonista erudito Pedro Aguiar vai dar aulas no evento Foto: Fotos: FERNANDA VIELA PHOTOGRAPHY - Renato Cortez - Divulgação
  • Davson Souza, diretor EMB, Daniel Baker (piano), vice-diretor EMB, e Vinícius Vianna (violão), coordenador pedagógico da EMB
    Davson Souza, diretor EMB, Daniel Baker (piano), vice-diretor EMB, e Vinícius Vianna (violão), coordenador pedagógico da EMB Foto: Renato Cortez
  • Davson Souza é diretor da EMB e organizou o 46º Civebra
    Davson Souza é diretor da EMB e organizou o 46º Civebra Foto: Renato Cortez
  • Pianista Arhtur Mardem, 46º Civebra
    Pianista Arhtur Mardem, 46º Civebra Foto: Divulgação
  • Pianista Arhtur Mardem, 46º Civebra
    Pianista Arhtur Mardem, 46º Civebra Foto: Divulgação
  • Pianista Arhtur Mardem, 46º Civebra
    Pianista Arhtur Mardem, 46º Civebra Foto: Divulgação
Nahima Maciel
postado em 14/01/2025 05:16
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