Cinema

Democracia é sonho: concorrente do Brasil no Globo de Ouro estreia

Filme A semente do fruto sagrado, que disputou Globo de Ouro com Ainda estou aqui, estreia nos cinemas

A semente do fruto sagrado -  (crédito: Mares Filmes)
A semente do fruto sagrado - (crédito: Mares Filmes)

Crítica // A semente do fruto sagrado ★★★★

É do macro para o micro que o diretor iraniano Mohammad Rasoulof, perseguido pelo governo dos muçulmanos, afunila sua afiada capacidade de observação e denúncia. No mais novo filme, depois de sequenciados prêmios na mostra Um Certo Olhar (em Cannes), Mohammad conquistou o prêmio especial do júri. A vitória fortalece o ódio que autoridades nutrem pelo artista.

Há quatro anos, o diretor faturou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, justo ao tratar do irônico tema de Não há mal algum: a luta por liberdade. No novo filme, que competiu no recente Globo de Ouro de melhor filme internacional (a produção é germânica, com coprodução francesa e iraniana), tudo se dá a partir da mutilação sofrida pela amiga de duas moças (as irmãs Sana, papel de Setareh Maleki, e Rezvan, personagem vivida por Mahsa Rostami), chamada Sadaf.

Numa Teerã convulsiva, com caótico cenário de defesa da liberdade, especialmente para as mulheres, os celulares se tornam uma arma, com amplo registro de todas as atrocidades. Najmeh (Soheila Golestani), a mãe das moças, a princípio é uma mera observadora pacata e desinteressada. Iman (Missagh Zareh), o patriarca, é o agente que implanta, no seio familiar, toda a desconfiança que assola o Irã em escala nacional. Ele, inicialmente, inofensivo e condescendente, não exala o mal difundido em meio à função torta de manipulável juiz de instrução. O clima sufocante impresso no filme é singular, e o impacto, seguro.

Ricardo Daehn
postado em 10/01/2025 14:12 / atualizado em 10/01/2025 16:11
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